sexta-feira, novembro 05, 2004

 

O triunfo da mediocridade

A lagartagem está contentíssima com a mediocridade da sua equipa de futebol, que ontem deu um espectáculo paupérrimo e cobarde (estavam borrados de medo com os gregos, que não valem um chavelho). Em dois ou três golpes de sorte resolveram o jogo e subitamente as 19.000 osgas que assobiavam incessantemente a equipa transfiguraram-se. Mas isso não apaga o jogo miserável que fizeram. A lagartagem gostou. E, por uma vez, partilhamos a mesma opinião. Nós, benfiquistas, também gostámos. Dá-nos confiança que o futuro do Sporting vai ser negro.
Mais tarde ou mais cedo (cheira-me que mais cedo) a boa sorte vai acabar, como tudo acaba. E aí as assobiadelas voltam, assim como voltam os impropérios dos energúmenos de que fala o Avô Cantigas.
Cá estaremos para aplaudir.

 

Ensaio sobre a falta de tomates (Crónica de uma derrota anunciada)

Existe quem defenda que nunca se deve criticar os jogadores e treinador do próprio clube porque é uma espécie de traição. Existe quem considere que se deve apoiar sempre a equipa, e que assim é que se presta um verdadeiro serviço de adepto. Na minha perspectiva, nada é mais errado.
É exactamente por força da minha devoção ao Benfica, e por querer que o clube seja o paradigma da coragem, do querer, da garra, do ‘um por todos e todos por um’, que se deve criticar quando as coisas vão mal. É a grandeza do Benfica que o exige.
O desenvolvimento de um clube depende muito desta dinâmica dos adeptos, da sua percepção de qual deve ser o comportamento exigível à equipa. A permanência de uma paz podre e a aquiescência face à mediocrização da equipa de futebol (de que muitos adeptos são culpados, porque não se manifestam), apenas leva à propagação de uma letargia, de um apatia, de um adormecimento venenoso.

A liberdade de expressão e a livre manifestação das críticas, quando justas, servem um propósito maior, que é o da tentativa de manutenção de um patamar de exigência em consonância com o maior clube de Portugal e um dos maiores da Europa e do Mundo.
Acima de tudo, quero que o Benfica seja um exemplo de garra e coragem, e que se entre para ganhar em todos os jogos (mesmo aqueles em que existem poucas hipóteses, na teoria), sem medo, sem reticências, sem baixar a cabeça. E que quando se perder, se perca de cabeça erguida, com a consciência de que tudo se fez. Que nunca se desista, que se acredite até ao fim. É isto a mística. É isto que faz as camisolas pesar no corpo dos atletas. É isto que a dimensão e história do Benfica exigem.

Isto vem a propósito da morte lenta que se vem instalando na equipa de futebol do Benfica, mormente por culpa do treinador. Não aceito, não é justificável, não pode acontecer que se percam ou se empatem jogos porque se tem medo do adversário, quando o adversário é o último classificado da Superliga. Como é que se pretende manter um primeiro lugar, ou ter autoridade para o manter, com receio das outras equipas? O Benfica tem de entrar em campo sempre para jogar de forma autoritária, seja com quem for, a nível nacional. É com esse querer que se fazem campeões.

Trapattoni, a ‘Velha Raposa’, disse ontem no final do jogo com o Estugarda que a partir do 2-0 começou a pensar no jogo com o Vit. Setúbal e por isso é que tirou o Nuno Gomes..
Quando ouvi isto na rádio, e mais tarde li nos jornais, não queria acreditar.
Este treinador, que morre de medo de qualquer clube contra o qual o Benfica jogue, faz passar a mensagem que a perder por 2-0, mais vale desistir e começar a pensar no jogo seguinte. Este não é o meu treinador.
Este treinador mantém sistematicamente em campo o Paulo Almeida (uma não-entidade, que nos faz jogar sempre com 10 – ou com 9, se estiver o Zahovic a jogar) e nunca, nunca aposta num sistema de dois pontas de lança (nem contra os últimos classificados), a não ser quando tudo parece perdido. Porque tem medo. Porque, morrendo de medo de sofrer golos, acaba sofrê-los, o que é patético. E porque não sabe que, com esta equipa, o modo de ganhar é marcar mais golos do que os que se sofre.

O meu treinador não tem medo, não baixa a cabeça, não desiste. O meu treinador diz aos jogadores que tudo é possível se se lutar, com querer, com determinação. O meu treinador sabe que o mundo foi construído por pessoas que não acreditaram em quem lhes disse que ‘isso é impossível’. O meu treinador não desiste a meio de um jogo europeu, e não começa a poupar jogadores para o próximo jogo da Superliga, porque tem medo do Vit.Setúbal (esse gigante do futebol mundial).
O meu treinador diz aos jogadores que eles são capazes. Que tudo pode acontecer, porque o mundo é dos audazes. Que o milagre da superação é possível, e que os heróis ainda existem. O meu treinador sabe que o Benfica é querer, é coragem, é autoridade, é não desistir nunca, é ‘ser mais alto’. Que o que importa é lutar, sem reservas, sem reticências, sem medo, pela vitória. E se a derrota vier, que isso aconteça depois de se ter lutado até ao fim, sem concessões. E que não se fique com um sabor amargo de derrota na boca, por saber que se perdeu sem ter sido corajoso, sem ser audaz, sem ter tentado tocar o céu. O meu treinador sabe que o destino somos nós quem o fazemos.
E o Trapattoni não é o meu treinador.

VIVA O BENFICA.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?