sexta-feira, julho 27, 2007

 

Adeus, pá. Cuidado com o degrau.


O Simão, ao longo das épocas que cá esteve, foi de forma sistemática o melhor jogador da equipa, fez inequivocamente a diferença na esmagadora maioria dos jogos e tornou-se o capitão de equipa. Como toda a gente que vai ao estádio sabe, era o jogador mais aplaudido na divulgação do onze titular. Não é fácil chegar a este patamar e há que respeitar quem o atinge. Por tudo o que fez enquanto cá esteve, muito obrigado. Consigo mais ou menos perceber, na fase específica da carreira em que se encontra, o aliciante de fazer o contrato de uma vida e rumar a um dos melhores campeonatos do mundo. É legítimo e respeito-o.

O que não percebo, de todo, é que essa saída seja para um clube de segunda linha como o Atlético de Madrid. Uma espécie de Sportem de Espanha, mas com menos queques, betinhos, matrafonas de casacos de peles e azulejos de casas de banho públicas. Um clube na penúria (passou os últimos anos sob gestão judicial, depois de ter entrado em processo de falência; os passes dos jogadores estão penhorados à Hacienda Pública para garantir dívidas ao Estado levantadas pela Inspecção Tributária; nos últimos anos houve vários episódios de pagamentos em atraso ao plantel), com um passado modesto, um presente modesto e um futuro incerto. É claramente um passo atrás do ponto de vista desportivo, ir para uma equipa que luta pelos lugares de acesso à UEFA e que joga este ano a Intertoto. Um clube sem carisma, com objectivos forçosamente modestos e com uma aura perdedora. A gestão desportiva de uma carreira é muito importante e não deve ser desprezada em função da gestão financeira, especialmente numa fase em que já se está num patamar de vencimento do calibre do Simão. O dinheiro não é tudo. Especialmente quando já se tem muito. A saída parece-me claramente o maior erro da carreira do Simão.
No entanto, e fazendo um auto-exame profundo à minha forma de pensar, reconheço que está viciada à partida. É que eu, ganhando o que o Simão ganha e sendo o capitão do Glorioso, estava na minha ideia de Paraíso. Não saía por todo o dinheiro do mundo. Objectivamente, é isto: para mim, ir para qualquer outro clube neste mundo, que não o Benfica, é um downgrade. Custa-me a perceber, portanto, como é que, em função de mais dinheiro e do relativo aliciante de um campeonato maior, e ganhando já rios de dinheiro, se sai do Maior Clube do Mundo para um clube absolutamente vulgar de Madrid. É orgânico, não o consigo entender. Será, no fundo, a diferença entre ter jogadores Benfiquistas profissionais e jogadores profissionais que jogam no Benfica.

É uma perspectiva redutora, algo infantil, até ligeiramente utópica? É uma visão romântica do Mundo? Serei apaixonadamente ingénuo? Será. Será. Serei. Mas não é isso parte intrínseca do que é ter na alma esta chama imensa? Parece-me que sim. Ser benfiquista é ver o mundo através de olhos vermelhos. Perguntem ao Rui Costa.

p.s. 1. Boa sorte para o Simão. Bem vai precisar;

p.s. 2. Vender o capitão do Glorioso por 20 milhões mais o direito de opção sobre dois jogadores do Atlético é manifestamente pouco, quando comparado com o valor das restantes transferências do mercado. Trata-se de um avançado, do melhor jogador e capitão de equipa. Mas respeito o facto de terem cumprido a palavra para com o Simão;

p.s. 3. Não há nenhum jogador do Atlético que queira ver no Benfica (à excepção do Forlán). E, para qualquer um deles, isso sim, seria uma subida na carreira. Portanto, o valor do direito de opção sobre dois jogadores para mim é igual ao valor das notas do Monopólio;

p.s. 4. Também resta esclarecer o que é isto de ‘direito de opção sobre a contratação de dois atletas ao clube espanhol'. Trata-se apenas de exercer o direito e os escolhidos vêm? Ou trata-se de exercer o direito e ainda ter de os pagar? É que assim os 20 milhões rapidamente passam a 0 milhões;

p.s. 5. Estou disposto a pagar quotas suplementares nos próximos 10 anos para evitar que o Costinha venha para o Glorioso;

p.s. 6. A sério;

p.s. 7. 'Pesadelo horrível', para mim, caro Engenheiro, é continuar a tê-lo como treinador. E o triste é que todos os dias acordo e percebo que o pesadelo é real;

p.s. 8. Isto dos p.s. é giro, mas acho que já chega.

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