O Ninho das Águias

Acho louvável o esforço dos responsáveis da Selecção Nacional no sentido da integração das pessoas com disfunções de personalidade e que acham que são vegetais / leguminosas, demonstrando que existe uma cultura de pluralismo e diversidade no desporto de alta competição. Neste âmbito, espero a qualquer momento a revelação dos contornos exactos deste protocolo FPF – Associação Portuguesa de Repolhos e Alhos-Franceses que proporcionou, nomeadamente, a inclusão do Caneira e do Postiga no onze inicial do jogo contra o México.
É preciso, no entanto, ter um cuidado extremo com este tipo de decisões, porque podem, em última análise, ser contraproducentes. O que quero, no fundo, dizer com isto é que as figuras tristes protagonizadas pelos dois jovens diminuídos - que atingiram patamares inexplorados a nível do burlesco (e que podiam ser incluídas numa qualquer antologia de momentos circenses) - podem, ao invés de constituir uma atitude meritória e mostrar que uma efectiva integração dos vegetais (e pessoas que acham que são vegetais) é possível, rodear-se de contornos exageradamente humorísticos e descambar em manifestações gratuitas de hilaridade que só venham prejudicar a imagem das pessoas ‘diferentes’ e contribuir para a imagem instituída de que os repolhos e alhos franceses só servem mesmo para fazer sopa e nem sequer são acompanhamentos decentes para refeições de peixe ou carne.
Pela forma como ia tendo um AVC ao rir a bandeiras despregadas de cada vez que o Caneira ou o Postiga apareciam no écran, arrisco-me a dizer que o jogo de ontem foi, claramente, um gigantesco passo atrás no esforço de integração dos vegetais e das pessoas que acham que são vegetais no desporto de alta competição mas, por outro lado, uma demonstração inequívoca de que existe futuro para a comédia sopeira.

É pena. A selecção já demonstrou que sabe integrar tanto animais (frangos como o Ricardo e cavalos de toureio como o Cristiano Ronaldo), como outras espécies vegetais (nabos como o Meira).