O Ninho das Águias

Ouve-se o Requiem de Mozart. Sob uma luz indirecta, sentado no sofá e com um ar pesaroso, está o Ricardo, o Frango do Montijo. O ambiente é pesado, à semelhança dos anúncios da Prevenção Rodoviária Portuguesa. Meio escondido na penumbra, e com um ar de indisfarçável emoção, Ricardo começa a falar, num tom melancólico:
-‘Era um dia como os outros, e todos estávamos felizes. Estava na baliza e o jogo corria normalmente, sem jogarmos grande coisa. De repente, sem aviso, surge uma bola alta. Eu tento subir para a apanhar e, por distracção ou desprezo pelas regras de segurança, deixo-a fugir. Nem vi o veículo que me atropelou. Foi tudo tão rápido. A bola ressalta para a frente e alguém marca golo. Ainda acordo de noite, com pesadelos, e o momento em que deixo fugir a bola repete-se em câmara lenta à frente dos meus olhos, dia após dia. Bastava ter cuidado, ou não ter comido aquele pão com manteiga com as luvas calçadas. A vida não volta atrás.’

Fade out. Continua o Requiem de Mozart (mais especificamente, a Lacrimosa). Surge a legenda:
‘Tenha cuidado. Ouça quem sabe.
Ricardo (maior registo de acidentes do que todas a auto-estradas em Portugal juntas)’

(no momento da substituição, no jogo com o FC Porco)

Rochemback: ‘vá tomar no c.., seu filho de uma p...Você é burro, burro, burro.’
Peseiro: - ‘hein? Tomar? Eu sou de Coruche, pá. Não percebi nada. Tanto barulho’.

(No dia seguinte, no treino)

P:’ olha lá, Roca, o que era aquilo sobre Tomar, pá? O pessoal diz que me estavas a insultar’.
R: ‘ah, eu não o estava xingando, não. Eu estava me insultando a mim mesmo. É, eu costumo fazer isso quando fico irritado. Aliás, aqui há uns tempos envolvi-me numa cena de pancadaria comigo mesmo. Deixei de me falar durante uns tempos e tudo. O que é chato, porque sempre me dei bem comigo mesmo e até íamos para todo o lado juntos.’
P:’ ah, bom. Mas estavas a olhar para mim.’
R:’ eu olho sempre para você quando procuro orientação espiritual. Além disso, você anda a comer demais, ocupava o meu campo de visão inteiro.'
P: ‘Mas olha lá, tens de te reconciliar contigo próprio, não gosto de ver ninguém chateado. Por isso é que tenho esta postura de palhaço alegre, para animar a malta. Tens de tentar uma aproximação com o teu outro eu.’
R: ‘com o meu outro você?’
P: ‘não, o teu outro eu’
R: ‘eu, quem?’
P: ‘o teu ego, pá’
R:’ o meu eco? Nunca me chateei com o meu eco...’
P:’ esquece. Vai fazer os exercícios com os outros. E tira o telemóvel ao Ricardo, acho que está a ligar para a RTP’
R: ‘ Vá tomar no c...’
P:’ hein?’
R:’ Nada, nada. Estava chateado comigo mesmo’.
(Risos enlatados)

Peseiro: Epá, desculpa lá ter-te tirado de campo, mas é que eu achei que a equipa talvez precisasse de mais alguma consistência física no meio campo, e tu também tens de compreender que ficaste muito tempo de fora, portanto os teus níveis físicos não são os melhores.

Rochemback: Tudo bem, mas a verdade é que o mister não me protegeu ao me tirar do campo naquele momento…

P: Sim, isso é verdade e eu já te pedi desculpas por isso, mas tu também não podes estar a fazer o jogo do adversário, não percebes que isso que tu estás a fazer é o que eles querem pá, tás a fazer o jogo deles…

R: Pois é…

P: A tua sorte é que eu disse que não tinha compreendido o que tu disseste, para te proteger, agora tu só tens que dizer que estavas chateado por estarmos a perder e pronto, no fundo tudo não passou de um excesso de profissionalismo.

R: Mas mister, na televisão…

P: Não te preocupes, relaxa, pensa com que cara é que vão ficar os tipos todos do Benfica e do Porto, já estavam todos contentes a pensar que tu ias deixar de jogar, a pensar que o Sporting era um clube sem disciplina, mas nós somos mais inteligentes, o Sporting é no fundo um clube do futuro, um clube de diálogo, tu para mim és como se fosses um filho, e a tua atitude não passou de uma pequena quezília entre pai e filho.

R: Mas pai, digo mister, sempre há aquela questão da multa…

P: Ouve lá, tu queres que as pessoas digam que nós somos estúpidos aqui no Sporting???, nestas coisas é preciso encontrar um meio termo, uma solução inteligente como a que foi encontrada que transpire dignidade, já te expliquei que o Sporting é um clube de diálogo, um clube de consensos, e eu não passo de um criador de pontes.

Ricardo Butterhands, vulgo o Frango do Montijo, ligou ontem para a Sport TV no meio de um programa para choramingar e pedir que 'Deixem de bater no Ricardo sem nexo'. Fiquei confuso. Não percebi se estava a falar de si próprio na 3ª pessoa do singular, ou se estava a defender um tal de 'Ricardo sem nexo'. Quem é esse 'Ricardo sem nexo', e o que é que o Ricardo tem a ver o facto de lhe baterem ou não?
Se estava a falar de si próprio, tudo bem. Também acho mal que lhe batam sem nexo. Batam-lhe como deve ser, de forma organizada e com objectos contundentes.

A equipa de futebol da lagartagem, pelo menos, passou a beber sempre leite sem natas ao pequeno almoço. Passam primeiro o leite pelo Ricardo. Já vários elementos da equipa técnica o levaram emprestado para casa. Consta que um dia destes a mulher do Peseiro abriu um dos armários da cozinha e estava lá o Ricardo, todo torcido e arrumadinho.

Quer dizer, prendem aquela malta toda na Venezuela por andar a passar droga (e por excesso de zelo, juntam a tripulação do avião) e por cá, o maior passador de todos continua em liberdade. Tá mal.




Procura-se.

Para os "grandes", basta uma vitória esclarecedora sobre qualquer clube de reduzida dimensão para os adeptos entrarem em euforia e pensarem que a crise foi posta de lado.

Esqueceram-se do Porto no sorteio da Taça de Portugal!

Será que também se vão esquecer dos tripeiros no sorteio da Taça UEFA?

Há que ser justo. Ninguém neste país faz mais pela imagem e promoção do frango nacional que o Ricardo Butterhands. Qualquer dia é homenageado pela Associação Nacional de Aviários.

O que será que é aquilo que eu vejo lá ao fundo? Is it a bird? Is it a plane? Será o Sporting?

Com o Porto, Marítimo, Setúbal, Boavista e Braga pela frente, o melhor é eu por os meus óculos de ver ao longe.

Apraz ver a união e identificação que existe entre a massa associativa da lagartagem e os próprios jogadores. Por exemplo, já não são apenas os adeptos a insultar o Peseiro. O Rochemback, numa atitude solidária quase comovedora, também já o insulta.
O Peseiro disse que ‘não percebeu bem o que o Rochemback disse’. Percebe-se, era difícil conseguir ouvir o rapaz, por entre as várias (e ruidosas) manifestações de afecto da lagartagem presente nas bancadas.

Com o Ricardo em campo não existem ângulos impossíveis nem bolas seguras. É emoção até ao fim!

Sem dúvida, a melhor contratação de Porto e Benfica.