O Ninho das Águias

Ouve-se o Requiem de Mozart. Sob uma luz indirecta, sentado no sofá e com um ar pesaroso, está o Ricardo, o Frango do Montijo. O ambiente é pesado, à semelhança dos anúncios da Prevenção Rodoviária Portuguesa. Meio escondido na penumbra, e com um ar de indisfarçável emoção, Ricardo começa a falar, num tom melancólico:
-‘Era um dia como os outros, e todos estávamos felizes. Estava na baliza e o jogo corria normalmente, sem jogarmos grande coisa. De repente, sem aviso, surge uma bola alta. Eu tento subir para a apanhar e, por distracção ou desprezo pelas regras de segurança, deixo-a fugir. Nem vi o veículo que me atropelou. Foi tudo tão rápido. A bola ressalta para a frente e alguém marca golo. Ainda acordo de noite, com pesadelos, e o momento em que deixo fugir a bola repete-se em câmara lenta à frente dos meus olhos, dia após dia. Bastava ter cuidado, ou não ter comido aquele pão com manteiga com as luvas calçadas. A vida não volta atrás.’

Fade out. Continua o Requiem de Mozart (mais especificamente, a Lacrimosa). Surge a legenda:
‘Tenha cuidado. Ouça quem sabe.
Ricardo (maior registo de acidentes do que todas a auto-estradas em Portugal juntas)’