quinta-feira, novembro 30, 2006

 

O remate, a velocidade, as diagonais e as rectas - Ensaio sobre a estupidez humana


Confirmando a minha profunda convicção que para se ser do Sportem é preciso ter um QI de um sapo atrasado mental ou navegar alegremente no último grau de sado-masoquismo, os ‘jornalistas’ (riso incontido) do Record brindam-nos com uma teoria tão hilariante quanto profundamente imbecil, numa peça jornalística cuja existência me faz duvidar do lugar do autor na escala da evolução humana.
Registe-se, em boa verdade, que a peça é particularmente ilustrativa do papel fundamental do jornal não oficial do Sportem como meio de veiculação de notícias absolutamente imprescindíveis para o público. Há muito que se impunha – era já essencial – que se fizesse um artigo sobre a velocidade teórica do remate de um jogador do Sportem num livre.
A peça possui também, é justo que o diga, um profundo carácter didáctico, na medida em que desnuda de forma brilhante porque é que ninguém na plena posse das suas faculdades mentais e auto-estima poderá ser do Sportem.

Diz a criatura autora do texto (digo criatura porque honestamente, atentando ao conteúdo e forma da peça, ninguém me convencerá que se trata de um ser humano, e não tenho a certeza de que animal se tratará) que o remate daquele moço da Agremiação de Queques de Camisolas Engraçadas na sequência de mais um livre - que lhes deu 3 pontos contra outra clubeta da mesma dimensão - decorrente de um desmaio daquele moço avançado subnutrido perto da grande área adversária, atingiu os 222 Km/h.
Diz a criatura que: ‘O cálculo tem como base não só o tempo que a bola demorou a chegar à baliza (28 centésimos de segundo) como a distância percorrida (16,5 metros). Admite-se, no entanto, que a velocidade possa ter sido ligeiramente mais elevada, uma vez que o jogador brasileiro se encontrava descaído para a direita e a bola entrou junto ao poste mais distante, não descrevendo uma linha recta, mas sim uma diagonal.’

Ora muito bem, há aqui, naturalmente, material muito interessante e profundamente pedagógico. O que é que aprendemos, meus amigos, com estas criaturas do Record?

Abstraindo-nos do facto de que o calhau do pseudo-jornalista que escreveu o texto fez mal as contas e que o valor correcto seria 212 Km/h, aprendemos, por exemplo, que se pode medir a velocidade apenas com recurso ao visionamento da emissão do jogo - transmitido sem recurso a câmaras de televisão de alta definição - independentemente dos fotogramas por segundo e sem ter em conta todas as outras variáveis associadas ao remate e que teriam de entrar para o cálculo. Isto é, no fundo, brilhante porque simplifica o método científico, essa seca que a gente séria tem de utilizar para validar teorias e conceitos.
Sim, porque tenho alguma dificuldade em conceber que o Record envie ‘jornalistas’ para os jogos do seu querido Sportem munidos de cronómetro, unicamente com o intuito de medir a velocidade dos livres de Ronnies e afins (se bem que perceba porque é que estarão absolutamente convencidos que existirão muitos, dado o precário equilíbrio do moço subnutrido que joga no ataque do Sportem).

Não. Estou convencido (é, no mínimo coerente com o seu nível de QI) que os prodigiosos ‘jornalistas’ do jornal não oficial do Sportem – depois de terem a brilhante ideia do artigo sobre a velocidade do remate sentados, sem dúvida, numa sanita, em profunda comunhão com a matéria de que é feita o seu cérebro – se terão sentado num sofá com uma lata de cerveja (ou várias, o que explicaria muita coisa) e terão calculado os 28 centésimos de segundo com recurso à gravação do jogo e de um cronómetro, medindo o tempo que a bola demorou desde que o jovem a pontapeou até entrar na baliza. O prémio ‘Burro da década’ está encontrado.

Bastaria, no entanto, ter pensado um bocado - o que percebo que lhes é particularmente difícil - para perceber o ridículo da questão. O Roberto Carlos, defesa esquerdo do Real Madrid e conhecido por ter um pontapé dos mais poderosos do mundo futebolístico, pontapeia livres a uma velocidade entre os 120 e 140 km/h. Os serviços mais potentes no Ténis mundial atingem velocidades de cerca de 200 km/h. A Bola, no seu artigo referente ao jogo em questão, menciona que o livre terá atingido os 120 km/h.
O Record, esse conjunto de visionários inspirados por um belo balde de merda fumegante, faz uma primeira página com letras garrafais a anunciar ‘222 Km/h’. É coerente, de uma forma retorcida. Jornal de merda, jornalismo de fossa.

Mas (tenhamos calma – isto não acabou) aprendemos outra coisa com o artigo, e esta verdadeiramente revolucionária e demonstrativa do natureza absolutamente visionária da lagartagem e dos seus meios de propaganda, assumindo o rompimento com as convenções do chamado pensamento mainstream.
Atentemos a esta pérola: ‘uma vez que o jogador brasileiro se encontrava descaído para a direita e a bola entrou junto ao poste mais distante, não descrevendo uma linha recta, mas sim uma diagonal’. Isso mesmo, releiam com a devida deferência ao pioneirismo deste conceito, bizarro na sua genialidade: ‘não descrevendo uma linha recta, mas sim uma diagonal’. Saboreiem o essencial, o sumo, a substância do que nos é dito: ‘não (…) recta, mas sim (…) uma diagonal.'
Não uma linha recta, mas sim uma diagonal.

O que nos diz aqui o animal autor do texto? O que nos é sugerido? O que aprendemos?
Aprendemos que uma diagonal não é uma linha recta. É-nos proposto, portanto, que vejamos o Mundo com outros olhos, sem amarras, sem ideias pré-estabelecidas, sem dogmas. Que criemos a nossa visão particular do Universo que nos rodeia.
Em suma, que fumemos uma ganza, que nos embebedemos até à inconsciência, que batamos com as trombas num muro até atingir um estado limite entre o mundo dos sonhos e realidade, um pseudo-nirvana entre a consciência e o mundo etéreo, e vejamos o Universo sob outra luz, inteiramente nova, com ângulos impossíveis e imagens reminiscentes de um quadro de Dali.
Imagino que seja neste estado alterado de consciência que a lagartagem ache que o Sportem é um ‘clube sério’.

Desafio aqui a criatura que escreveu o artigo a dizer sob o efeito de que substância alucinogénia (porque também queremos experimentar) é que desenvolveu o conceito de diagonais que não são linhas rectas (mas sim, imagino, e de acordo com o seu bizarro sistema de pensamento, invariavelmente curvas e repletas de ângulos impossíveis).
Pode ser que sob a influência dessa substância possa finalmente concretizar um velho sonho meu: inventar um círculo com ângulos rectos.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?