sexta-feira, outubro 27, 2006

 

O Asneirismo

Há que dizê-lo com frontalidade: o Engenheiro esta semana subiu na minha consideração.
E dirão vocês: ‘Mas, Gwaihir, para subir de zero não é preciso muito’. Ao que eu responderei: ‘calem-se, que não costumo falar com os visitantes do blog enquanto estou a escrever um texto. Aliás, vocês não estão verdadeiramente a falar, isto não passa de uma mecanismo literário em que se atribui discurso a quem não o tem apenas para mostrar pontos de vista diferentes, facilitar a transmissão de ideias e embelezar o texto, por isso nem tenho de vos responder’.
Adiante.
O Engenheiro subiu na minha consideração, não porque de repente tenha ganho a qualidade que nunca lhe reconheci ou porque me tenha dado um inusitado ataque de benevolência (não é muito habitual, mas consta que já os tive), mas sim, meus amigos, porque se revelou um adepto particularmente habilitado do Asneirismo. E eu, caras benfiquistas e caros benfiquistas (que politicamente correcto e tão séc. XXI que isto soou), sou – digo-o com indisfarçável orgulho - o pai do Asneirismo.
O Asneirismo (Swearanism, na sua forma mais pura, e exactamente como o termo se me ocorreu – sim, às vezes penso em inglês. Podem argumentar que será pouco patriótico, mas sinceramente, estou-me positivamente a borrifar para o que vocês argumentam: já vos disse que não estão verdadeiramente a falar) é uma infanta religião, uma filosofia de vida cuja premissa básica assenta – adivinharam - no culto da asneira e no uso desta como fonte de libertação espiritual e de catarse.
Quantos de vós, nas mais diversas circunstâncias das vossas vidas amordaçadas pelas regras da vivência em sociedade, não soltaram uma abençoada e estrategicamente colocada asneira num momento chave de descompressão e não experimentaram o imediato alívio que isso acarreta? Quantos de vós, caros autómatos programados para uma vida de rotina e de algemas politicamente correctas, ao deparar com situações que testariam o auto-controlo do Dalai Lama e a paciência do Mahatma Ghandi, não vomitaram um celestial ‘Filho da p***’? Quem, perante uma daquelas situações de trânsito em que damos de caras com criaturas quem têm tanta vocação para conduzir como para assobiar pela abertura anal, não soltou um delicioso ‘bardamerda’ e experimentou a sublime e profundamente libertadora catarse que daí advém? Quem, sem aviso e deparado com a dantesca visão do Porco da Costa no écran de televisão, não soltou um imediato e instintivo ‘Filho de uma cadela sifilosa e desdentada’, sentindo de imediato a aplacação desse violento ataque aos sentidos? Qual de vós, batendo com a cabeça num candeeiro ou martelando involuntariamente um dedo não sentiu já a imediata aplacação da dor que um sentido e catártico ‘F***-se’, proferido com inabalável determinação, vontade e orgulho – que cresce no fundo da barriga, navega e enche os pulmões como um irredutível tsunami e finalmente jorra pela boca - fornece?
O adequado uso de uma valente asneira no sítio certo possui uma natureza catártica que roça a libertação espiritual e que nos torna, curiosamente, mais serenos.
Acresce o facto de que a bizarra elegância formal duma providencial asneira colocada numa qualquer monótona e costumeira frase fornece, indubitavelmente, um certo élan, um desprendimento colorido e uma pitada de humor que deixam adivinhar uma atitude descontraída e liberal perante a vida.
É importante – fundamental até – no entanto, não confundir as coisas. Um adepto, um fiel do asneirismo é um asneirista, não um asneirento.
Um asneirento é apenas um indivíduo que diz muitos palavrões. Um asneirista não. Um asneirista domina a arte da colocação da asneira adequada no local exacto da frase. Um asneirista deleita-se na sublime sensação de realização que resulta da degustação da asneira, não na intenção de chocar ou ser apenas bruto de forma gratuita. Um asneirista atinge a libertação espiritual, torna-se uma pessoa melhor ao expressar em palavras o turbilhão de raiva que lhe vai na alma.

Pois muito bem. Ao observar o jogo com o E. Amadora e perante a brilhante exibição do assalariado do Porco da Costa que vestia de preto, vi o Engenheiro, numa inatacável exibição de Asneirismo da elevado calibre, vociferar uma série de impropérios que me deixaram orgulhoso e que geraram uma automática empatia com o nosso treinador. De todas as pérolas que o vi vomitar para a criatura Xistra, a que me mais suscitou simpatia foi a proverbial ‘Filha da puta’. Repare-se aqui num pormenor que à partida pode passar despercebido mas que revela um domínio invulgar dos mecanismos do Asneirismo. O Engenheiro utiliza de forma brilhante um mecanismo basilar do Asneirismo ao transformar o proverbial ‘filho’ em ‘filha’. Isto não é, atente-se, uma forma de questionar a orientação sexual do jovem Xistra (essa, na verdade, é inequivocamente estabelecida pela invulgarmente justa indumentária, pelos trejeitos abichanados e pelo arzinho de copo de leite).
Não, na verdade este encantador mecanismo estilístico que se consubstancia na deliberada confusão de géneros, não é mais do que uma fascinante variação de origem popular que torna o termo mais pitoresco e que realça, de forma muito perspicaz, a musicalidade da expressão. Reparem: ‘seu filha da puta!’.
Atentem neste prodígio fonético, na paradoxal masculinidade e força do termo, demorem uns instantes a absorver a melodia.


Ora aí está.


O bom Engenheiro (reparem, até já junto um adjectivo não insultuoso antes do nome do homem), ao demonstrar invulgar mestria no uso do Asneirismo, mostrou de forma surpreendente que podia perfeitamente estar na bancada, ao lado de um nós (provavelmente, é onde deveria estar, mas não nos dispersemos). E isso atribui-lhe uma simpatia que não lhe reconhecia.

E pronto. É isto.

Na melhor tradição do Asneirismo: Vão à bardamerda!


p.s. devo acrescentar que a simpatia se prolongou pela conferência de imprensa e declarações após o jogo. O que o Engenheiro disse não é mais do que o que todos pensamos e dizemos entre nós, mas que normalmente não passa pelas redes castradoras do discurso politicamente correcto que vai sendo regra no futebol. O que o Engenheiro fez foi dizer o que um de nós diria. Foram encomendadas as expulsões do Luisão, Simão ou Miccoli. Calhou a fava ao Miccoli. Espero que o Xistra se engasgue com os rebuçados que isso lhe proporcionou.

segunda-feira, outubro 23, 2006

 

Puzzle

Esta semana, numa perspectiva eminentemente lúdica (estou aqui para vos agradar), deixo-vos uma espécie de puzzle. Poder-se-á argumentar que se trata de um quebra-cabeças artesanal e algo rudimentar (afinal, é segunda feira e ninguém terá muita vontade de pensar em demasia), mas não deixa de ter o seu carácter recreativo. E se para vocês, benfiquistas, isto será evidentemente básico e imediato, para outras criaturas com a capacidade mental de um tijolo, como os lagartos e os tripursos, isto poderá constituir um desafio comparável à descodificação do genoma humano.



Olhem, se fazem o favor, para as duas gravuras do vosso lado direito. O exercício consiste em adivinhar onde é que o objecto da figura mais à direita se pode inserir na anatomia do indíviduo da figura à mais à esquerda.



p.s. em jeito de pista (para os lagartos e tripursos que estão prestes a ter um esgotamento desde a colocação deste post), poder-se-á dizer que a solução do enigma se enquadraria de forma perfeita no passatempo favorito da figura histórica que terá inspirado Bram Stoker a criar o seu Conde Drácula: ‘Vlad Tepes, o Empalador’.

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