quarta-feira, fevereiro 22, 2006

 

Sou Benfica

Esta gente que enche o Estádio da Luz, que vem de longe, que calcorreia quilómetros e quilómetros, que enche os autocarros, os transportes, as estradas deste país; esta gente que faz sacrifícios, esta gente que paga bilhetes, quotas, gasolina; esta gente que se afasta dos seus para ver a Águia, esta gente que acompanha o Benfica por este país fora, esta gente que leva o Benfica no coração, que chora como se deparasse com a morte quando o Benfica perde, que canta uma alegria incontida quando o Benfica ganha ; esta gente, dizia eu, este mar vermelho que entrega a sua alma nas mãos dos jogadores que envergam as camisolas cor de sangue e que os coloca no caminho da glória, merece tudo. Merece tudo, porque tudo dá.

O arrepiante ambiente de comunhão total e de absoluta devoção ao Glorioso que se viveu ontem no jogo com o Liverpool, que apenas se vive no Estádio da Luz, templo da Águia, e que se reproduz onde o Benfica passa (como se reproduziu no Estádio do Bessa, no ano passado, numa dimensão como nunca havia sonhado que fosse possível), é qualquer coisa – já aqui o disse – de profundamente religioso.
Esta gente, tudo isto, é o Benfica. Cantem, pois, ‘Sou Benfica’, porque o são, na verdade.
Estas noites que se constroem no Estádio da Luz, no Ninho das Águias, no palco dos nossos sonhos, não estão ao alcance de qualquer clube. Não: são noites à Benfica. E Benfica só há um. Por mais que isso doa a muita gente.

Ainda que se tivesse perdido, ou que o azar nos tivesse batido à porta, já teria valido a pena. Ser engolido por esta alma colectiva é algo que por si só nos faz pessoas melhores, maiores.

VIVA O BENFICA

p.s. de todos os sportinguistas que conheço, apenas um – grande amigo e nobre e leal desportista, – me desejou boa sorte antes do jogo e soltou um ‘Viva o Benfica’ no final. Outros me desejaram a mesma ‘boa sorte’, mas foram desejos fingidos, forçados, irónicos, vomitados com a esperança contida, secreta, ocultada de que o Benfica tivesse, ao invés, a pior sorte. Este foi o único em que acreditei e que soube que era, verdadeiramente, sentido. Fossem todos os sportinguistas como ele e Portugal seria um sítio melhor, assim como a minha atitude para com o Sporting também seria diferente. Dirão os sportinguistas fundamentalistas, que alimentam a nação antibenfiquista, que ‘sportinguista que se preze nunca diz este tipo de coisas’ e que ‘esse não é um sportinguista a sério’. Enganam-se. É, muito provavelmente, o único Sportinguista que conheço.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

 

Nunca estar sozinho, não morrer nunca


Meus amigos, companheiros, gente que vive com o Benfica na alma,

Ser benfiquista até à morte significa, entre outras coisas, que se acompanha o Benfica nas vitórias, nas derrotas, nos bons e maus momentos, nas alegrias esfuziantes, nas formas de morte anunciada. Não o quereria de outra forma. Hoje, no Estádio da Luz, vou-me equilibrar no ténue fio de esperança que nos separa do abismo. Consciente que, se cair, me levanto, sacudo a poeira da roupa e cantarei que ser do Benfica me envaidece.
Hoje, no Estádio da Luz, no Ninho das Águias, vou gritar até ficar sem voz, até os pulmões me falharem. A minha alma vai dançar entre as camisolas cor de sangue e, por entre as camisolas berrantes - quais papoilas saltitantes - arautos dos nossos sonhos no relvado celestial, vou abençoar o voo da Águia. Ser benfiquista é lutar até ao fim, é morrer com a camisola colada ao corpo, com o emblema cravado na carne – é saber que se deu tudo. Que os jogadores do Benfica, ancorados na garbosa alma imensa da Águia, sejam dignos das camisolas que envergam.
E que saibam que, no fim, nas vitórias ou nas derrotas, nunca estão (nem nunca estarão) sozinhos.

Reparei agora que menti. Não sou benfiquista até morrer. Ser do Benfica é ser imortal. Nunca se está sozinho, não se morre nunca.

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