quinta-feira, maio 13, 2010

 

De muitos, (faça-se) um

E de repente o estômago sobe à boca, e o mar inunda os olhos e a alma fica cheia, tão cheia, e o mundo passa a fazer sentido e o Benfica volta a casa e nós estamos lá à espera, há anos de porta entreaberta a olhar para a estrada a ver se ele volta.


Gosto de dizer – faço alarido disso – que não sou um homem religioso, do alto do meu orgulho arrogante de quem acha que é auto-suficiente na sua carapaça bem estruturada, no seu aprumado sistema de pensamento e valores.
Minto. Minto, tenho mentido a mim próprio e minto a quem mo ouve dizer. Percebo agora que professo o Benfica como uma fé, entranhada na alma e imorredoira, e vivo desesperadamente agarrado a ela, como se fosse um amuleto que me protegesse do mundo (o que, na verdade, é).

Quando o Benfica cumpre o seu destino, quando ganha, parece que o Universo se alinha e que de repente tudo passa a fazer sentido, tudo passa a estar no seu lugar, tudo ganha ordem. Quando o Benfica cumpre o seu destino, o Mundo – torto e imperfeito como é – parece uma criação harmoniosa e justa, simples no seu desígnio, honesta no seu âmago. As coisas ficam mais nítidas, as cores mais vivas, o ar mais leve, a respiração mais fácil. Quando o Benfica cumpre o seu destino, o Benfica volta, na verdade, ao lugar onde deve estar, ao lugar de onde nunca deve sair, ao lugar que sente a sua falta, que clama por ele quando ele - o Benfica – lá não está.

Domingo à noite, enquanto largava à sorte - pelos ares da Lisboa que dançava de corpo enroscado no Benfica campeão – o grito reprimido que levo dentro do peito há mais tempo do que devia, encontrei – encontrámos – um mar de gente que queria, que precisava como de ar para os pulmões, de derramar a alma por sobre a cidade pintada de vermelho. De entre essa gente, muita veio falar connosco, e a todos eles envio um abraço mais forte do que aquele que naquela altura consegui dar - a luta foi árdua, isto saiu-me do corpo e do espírito, e eu sou franzino.
Velhos, novos, altos, baixos, de todas as profissões e estratos sociais, de todos os credos, convicções, ideais políticos, raças, nacionalidades. Tímidos, extrovertidos, cultos, simples, despreocupados, resguardados, optimistas, pessimistas, sãos, doentes, puros, menos puros. O Benfica democratiza a existência humana, mais do que alguma outra invenção do espírito humano. Acredito piamente nisto. Ironia que tenhamos nascido num tão pequeno berço – este país, promessa adiada amordaçada pela inveja – para tamanha ambição à conquista do Mundo. Já o disse mais do que uma vez, digo-o (escrevo-o) outra vez (a verdade merece ser celebrada): o Benfica é um raio de luz, um renascer das melhores qualidades que jaziam adormecidas na alma colectiva de um país reduzido a uma insignificância amordaçante. O Benfica reuniu o que de melhor havia em nós e, fruto de muita luta, suor, sangue, sacrifício e honra, voltou a dar Portugal ao Mundo, enquanto se tornou infinitamente maior que Portugal. Apesar de ter cá nascido, o Benfica é do Mundo – não se esgota numa cidade, numa região, num país - porque o Mundo aprendeu a respeitar o Benfica e nele reconheceu as virtudes que elevam a existência humana. O Benfica de hoje, sustentado neste passado glorioso, projecta-se no futuro, fiel (fiel, caramba!) a tudo o que o construiu.

Toda esta gente, este mar que dá a volta ao Mundo, não é do Benfica por acaso. É do Benfica porque o Benfica é são, porque o Benfica une, porque ser do Benfica é um orgulho sem fim, mesmo nas horas mais negras, quando o futuro parece um poço escuro sem fim. Porque ser do Benfica não é só ser melhor que os outros, jogar de peito aberto, dar tudo, sem quartel, morrer com o emblema cravado na carne. É um modo de vida, é ser mais alto (do que os homens, do que os outros, do que tudo), é ter cá dentro uma chama imensa que nos ensina a ser grandes – muito, muito grandes – nas vitórias e grandes nas derrotas.

O Benfica é tudo isto, é todos nós, é o um que resulta da imensidão de muitos. Quando, nas bancadas, as nossas almas se unem num grito comum, lancinante e arrebatador, que carrega o Benfica, somos um. E lá em baixo, a equipa, que bebe essa chama, esse apelo, essa invocação, mais não é do que um prolongamento – a espada que brandimos – do Benfica que somos todos nós (aquelas pernas lá em baixo são as nossas pernas, aqueles pulmões são os nossos pulmões). É assim que sinto o Benfica. Uma manta tecida por uma miríade de vontades que me aquece nas horas escuras e frias, uma aragem soprada por milhões de almas que me refresca quando o calor me amordaça, um farol de milhões de corações encarnados que me alumia o caminho quando a noite me sufoca.

Era isto que me inundava a alma quando as minhas pernas – num esforço transformado em leveza pela felicidade - me levavam pelos caminhos vermelhos desta cidade enamorada pelo Benfica.

Naquele imenso mar de gente que jorrava do estádio como um rio e cujas almas ameaçavam romper o corpo, há um benfiquista que pergunta se pode dar um abraço. É pequeno, humilde, tenaz, e tem a felicidade estampada num rosto onde consigo ver um mapa de uma vida inteira feita a pulso. Indiferente à pergunta, solta o abraço. Dou-o, sentido, emocionado. Somos todos da mesma família, somos todos filhos da Águia (somos todos irmãos que não sabíamos que tínhamos, escrevi uma vez). Por entre elogios ao programa e simpáticas e sentidas palavras sobre como gosta de nos ver e ouvir, diz, não sem alguma mágoa: ‘um dia também gostava de ir à televisão contar algumas histórias minhas. Passei por muitas dificuldades’.

‘Passei fome para apoiar o Benfica’. ‘Passei fome para apoiar o Benfica’, diz-me.

Paro. Não sei o que dizer, o que responder a isto. Quero dizer-lhe que não precisa de ter fome nunca mais, mas não o sei fazer: as palavras estão-me algures entaladas no corpo, sequestradas pela crueza da devoção cravada no que ouvi.
Que estranha forma de vida é esta que nos impele a escolher a Águia, em sacrifício absoluto do corpo? O que é isto, de que é feita esta gente, quem são, de onde vêm? Que doce e sofrida existência é esta que nos carrega pela vida à revelia de tudo o resto, em luta com o dia a dia e com as necessidades mais cruas? O que é, como se explica, de onde vem esta chama que nos faz desafiar o destino, arriscar coisas que provavelmente não deveríamos arriscar, no limite, em permanente sacrifício?

‘Quem são, de onde vêm’, pergunta-se? Porra: são a minha gente, vêm de onde eu vim.

A fome que ele tem – eu sei, também é a minha - é mais forte do que a fome que o corpo grita. E esta, apenas o Benfica pode saciar.
Esta gente que tudo dá merece tudo. Tudo. Tudo. Este campeonato é, primeiro e acima de tudo, para eles.

Somos campeões. Dignos, justos, sem mácula. Com honra, suor, sangue e sacrifício, honrando a nossa História e todos os que a fizeram.
E na hora da vitória, descubro, com uma claridade perturbadora, que – eu que vivo o Benfica ‘de língua afiada, coração na boca e espada na mão, sem amarras, sem grilhões’ - não quero, não tenho a necessidade, não sinto a premência de agitar a nossa glória em frente a todos aqueles canalhas que nos cuspiram em cima, que nos ofenderam, que usaram tudo e de tudo para nos impedir de cumprir o destino, para evitar que se fizesse justiça. Curiosamente, percebo que não preciso sequer de invocar essa gente: o pior castigo é deixá-los a esbracejar no fel em que se afogam. Chegado aqui, o amor ao Benfica não deixa espaço para mais nada. Lá está: o Benfica faz de mim uma pessoa melhor (como se não lhe tivesse já razões de agradecimento de sobra).

Passa o tempo. A poeira assenta, as lágrimas secam, a alma sacia-se. Solto um suspiro do tamanho do Mundo. O Benfica está em casa.

Apetece-me abraçar novamente quem abracei pelas ruas. Abraço-os a todos daqui.
Um abraço do tamanho do Benfica – ou seja, do tamanho do Mundo – para todos os benfiquistas que, no fundo, mais não são que o meu – o nosso - Benfica.

E, por fim, um abraço sentido e fiel a quem tudo isto proporcionou. Não tenho memória curta e não sou de lealdades volúveis. Estaria e estarei aqui, com o mesmo abraço, nas horas mais difíceis, como sempre estive (desde o início, de corpo e alma).
Um abraço ao presidente Luís Filipe Vieira pela visão, pela coragem e pela liderança determinada, um abraço ao Rui Costa pelo benfiquismo traduzido em gestão desportiva digna do melhor e maior clube do mundo, um abraço a toda a estrutura directiva, onde há gente que tenho a honra de ter como amigos. Um abraço ao Jorge Jesus por me devolver o Benfica ao Benfica, por me saciar a fome e por descobrir que sempre foi benfiquista e não o sabia. Um abraço a todos os jogadores, que honraram a camisola cor de sangue e me fizeram sonhar.
O Benfica que temos hoje, construído com visão, coragem e muito sacrifício, permite-me dizer, sem qualquer sombra de dúvida:

Isto, meus amigos, companheiros de sofrimento, gente que vive com a Águia na alma, é só o início.

VIVA O BENFICA!!!

quinta-feira, setembro 03, 2009

 

A fome

"Já não se ganham jogos por 6 ou 7 a 0" – Fernando Santos, Novembro de 2006.

Corria o mês de Novembro de 2006 e o Glorioso, treinado pelo cinzento Fernando Santos, recebia em casa o FC Copenhaga para a Liga dos Campeões. Já havia feito um jogo à imagem da equipa técnica em Copenhaga (não preciso de dizer mais nada) e o desafio era demonstrar a evidente diferença de qualidade entre as equipas e ganhar confortavelmente em casa.
A equipa fez o essencial e marcou 3 golos na primeira parte. E depois, num exercício ofensivo de displicência, decidiu-se que não valia a pena jogar o resto do jogo.
O Benfica ganhou 3-1 e eu irritei-me como não me irritava há muito.

Na altura escrevi o seguinte:

“Irrita-me que, perante a constatação de tamanha superioridade (essencialmente por força da fragilidade do Copenhaga - que são basicamente uns cepos, sejamos honestos), a equipa faça o essencial e depois entre em modo de economia. Irrita-me a displicência, a sobranceria, a falta de ambição, o conformismo, a falta de chama. Irrita-me que falte ao Benfica o Benfica. Irrita-me que a equipa encare 45 minutos de jogo como um ‘frete’ que tem de sofrer, quando tem nas bancadas gente sôfrega de futebol.
É um sentimento desajustado, será um exagero da minha parte (livrem-se de responder, acho que já está mais ou menos assente que não faz sentido), face à vitória e ao resultado? Não, não é.

E não o é porque nenhuma das pessoas que normalmente carrega a equipa ao colo no Estádio da Luz (e só assim é que se explica que assumam o jogo em casa, e fora joguem como uma equipa de rapazinhos amedrontados e desorientados) pagou bilhete ou comprou cativo para ver metades de jogos. Apoiamos a equipa durante todos os jogos, muitos de nós sofrem sacrifícios (de natureza monetária, familiar, profissional ou de qualquer que seja) para lá estar, sofremos do primeiro ao último minuto, vivemos intensamente todo o jogo. O mínimo que esperamos, e a que temos direito, é que joguem durante todo o tempo regulamentar com a paixão, querer e vontade que se exige a quem enverga a camisola cor de sangue.
Não admito que, chegando a 3-0, de repente se tire o pé do acelerador e se ache que ‘bom, já chega. O trabalho está feito, agora é aturar o frete’.
É criminoso amordaçar a capacidade, o querer, a vontade e matar o espectáculo em nome de um conformismo bacoco, porque ‘já não se ganham jogos por 6 ou 7 a 0’, segundo diz o cinzento do nosso Engenheiro. Não seria objectivamente moralizador, não constituiria uma façanha ganhar, por exemplo, por 6-0? Não motivaria a equipa, não galvanizaria os adeptos, não faria furor na Europa, não seria motivo de orgulho, não elevaria ainda mais o nome do Glorioso, não catapultaria a equipa para outro nível de confiança?
A displicência e sobranceria com que enfrentaram toda a segunda parte resultou num golo sofrido absolutamente escusado e num final de partida perfeitamente evitável que nos podia ter saído caro. É o que acontece a quem, ao invés da audácia, abraça o conformismo.
Cada uma das pessoas que está nas bancadas pagou para ver a sua equipa a jogar futebol, para assistir a um espectáculo desportivo. E como se costuma dizer, o golo é a festa do futebol, é o culminar do esforço que as equipas fazem em campo. Não passaria pela cabeça de ninguém assistir a um jogo onde as equipas apenas mastigariam o tempo a passar bolas entre os jogadores, num bocejo interminável. Ontem, a equipa técnica e os jogadores decidiram que 37 minutos de espectáculo chegavam. Não o admito.

(…)

Reparem, tudo isto me irrita sobretudo porque acho que esta atitude está intimamente associada à explicação fundamental das derrotas e dos jogos menos conseguidos. Não me irritaria tanto se achasse que era apenas uma coisa isolada, um mero jogo encarado de forma menos séria ou profissional. Não. Isto irrita-me porque denuncia uma mentalidade, uma atitude que preside à forma como a equipa é gerida emocionalmente e que lhe retira a capacidade de ser temida e de ser temível. Se não temos killer instinct nestes jogos, se não os aproveitamos para afiar as garras, afinar as movimentações ofensivas, viciar a equipa em golos, jogar o futebol pelo futebol, então quando o faremos? É este retraimento, esta incapacidade de abraçar o destino na sua plenitude que acaba por diminuir psicologicamente a equipa e a torna incapaz de resistir às adversidades de jogar fora de casa. E isto, meus amigos, é trabalho que tem que ser feito pela equipa técnica. Blindar a equipa emocionalmente, dar-lhes espírito de luta, capacidade de resistência a adversidades inesperadas, instinto assassino. Isto atinge-se ganhando estes jogos de forma inapelável, sem contemplações, sem fazer prisioneiros. Se tivéssemos esse instinto assassino, se calhar teríamos ganho o jogo em Copenhaga (que provavelmente nos vai custar a passagem à próxima fase da Liga dos Campeões), teríamos ganho ao Celtic em Glasgow, teríamos goleado o Celtic na Luz e não teríamos perdido o jogo no Estádio do Porcalhão. E não me venham com a cantiga de que é normal a gestão do jogo, e que os jogadores naturalmente relaxaram a partir daí, e por aí fora. Cumpre exactamente à equipa técnica lutar contra isso e gerir a equipa do ponto de vista psicológico.”

Fast forward para Setembro de 2009.

O Glorioso recebe o Vitória de Setúbal na Luz. Joga que se farta, marca o primeiro e carrega. Marca o segundo e carrega. O Benfica marca o terceiro, o quarto, o quinto e carrega. Os jogadores têm fome de bola, pedem-na aos colegas, jogam para a frente, com garra e confiança. Cheiram sangue e correm atrás da presa. Querem mais. O Aimar dança elegantemente dentro de campo. A equipa dá espectáculo enquanto estraçalha o adversário. Olho à minha volta e os sorrisos que vejo estampados nas caras dos adeptos mostram que o Benfica voltou a casa.

Chega o intervalo e Jorge Jesus pede aos jogadores para jogarem como se estivesse 0-0. Quer mais golos, quer a mesma agressividade, irreverência, espectáculo. Não chega – nunca chega. Não é suficiente estar assegurada a vitória, não fará sentido gerir o jogo, não será melhor evitar esforços? Não, não e não! Jesus quer, como nós, mais. Aguce-se o killer instinct, afine-se a máquina, sirva-se espectáculo a quem o veio ver.

Os jogadores fazem-lhe(-nos) a vontade e continuam a jogar como se não houvesse amanhã. Sem medo, sem amarras, sem perdão. O Benfica marca o sexto, o sétimo, o oitavo e carrega. Os ataques sucedem-se. Falha-se mais meia dúzia de golos. O Ramires corre como um louco, o Saviola parece que tem 14 anos, o Di Maria está possuído, o Fábio Coentrão também. O estádio festeja, as bancadas pairam entre cada jogada. A chama arde. Aproximam-se os 90 minutos e Jorge Jesus vocifera, esbraceja, exige que os jogadores vão a todas as bolas como se fossem a primeira. Quer o nono golo. Ah, que se lixe, quer o décimo. Também nós.
Chega o fim do jogo e irrito-me profundamente (perguntem ao D’Arcy e ao Pedro F. Ferreira) com o assomo de laxismo que resulta no golo sofrido. Descubro, um pouco mais tarde, que o Jorge Jesus ficou tão irritado quanto eu. E percebo que temos o treinador que sempre quis.

A vitória, enquanto mero exercício matemático de adição de pontos numa competição, vale o que vale. São três pontos, como o seriam numa vitória por 1-0. Ah, mas o diálogo que teve lugar naquele relvado entre o Benfica e a sua alma vale mais – muito, muito mais.
Vale, acima de tudo, o reencontro do Benfica com a sua identidade. Com a sua matriz ideológica.
E eu, vendo no relvado materializar-se tudo aquilo que defendi e escrevi, emocionei-me - claro que me emocionei.

Vamos ganhar jogos e jogar maravilhosamente, vamos ganhar jogos e jogar mal, vamos inevitavelmente empatar ou jogar jogos. Mas esta atitude, esta fome, esta filosofia como motor molda a equipa, formata-a para ser temida e para ser temível, evita-lhe o retraimento, exercita-lhe o instinto assassino, afia-lhe as garras, afina-lhe os movimentos ofensivos, dá-lhe estofo e prepara-a para tudo o que aí vem.

Fernando Santos era benfiquista no papel, mas faltava-lhe a águia na alma. Arrisco-me a dizer que Jorge Jesus, não tendo sido benfiquista de facto (até agora), sempre teve a águia na alma, mas não o sabia. E, nessa medida, é o treinador mais profundamente benfiquista (no que isso significa em irreverência, destemor, determinação e ousadia) que temos desde há muito.

Caro Fernando Santos, ganham-se jogos por tantos golos quantos quisermos, se formos audazes e soubermos abraçar o destino. Eu sempre o soube. O Jorge Jesus também.

quarta-feira, agosto 26, 2009

 

Atropelamentos e naufrágios

Ficamos a saber, portanto, que a SAD do FCP e o site oficial do clube servem de órgãos de relações públicas e de comunicação no que concerne a assuntos pessoais do presidente do clube do Guarda Abel. Mas afinal quem é que foi a julgamento no Tribunal de S. João Novo? Foi o clube? Foi a SAD? Foi alguma entidade empresarial do grupo? Ou foi o presidente a título pessoal?
Uma das manobras, julgo, profusamente utilizadas para defender o indefensável e tentar evitar castigos ao clube na altura do auge do Apito Dourado foi exactamente o argumento da separação entre as acusações ao presidente/dirigentes e o clube ou a SAD (sendo que depois se tentava separar ou juntar os processos consoante o seu desenlace e da forma mais conveniente, à chico-esperto). Agora, no âmbito de um processo de carácter eminentemente pessoal, percebe-se que afinal as coisas são – sempre o serão – indissociáveis. O FCP e os seus recursos são instrumentalizados pelo seu presidente e tudo o que este faz está inapelável e intimamente associado ao primeiro (poder-se-á especular, até, se terá sido o Bruto Alves o condutor do automóvel responsável pelo atropelamento, o que explicaria o estilo ‘viril’ da condução).
Gostaria de pensar que há portistas que não se sentem confortáveis com esta promiscuidade, mas quem defende os métodos utilizados por esta gente há décadas e quem festeja despudorada e orgulhosamente campeonatos obtidos a fruta, galões e viagens ao Brasil não deve ter grandes problemas de consciência com mais esta facada na credibilidade de um clube que há muito que é apenas uma fachada para um grupo de gente sem escrúpulos.


O moço com deficiência estético-capilar que treina a Agremiação do Lumiar, no lançamento da segunda mão do jogo com a Fiorentina fez uma comparação muito interessante entre o Sportem e o Titanic. Percebo a ideia (afinal o que é o Sportem senão uma tragédia que malha sistematicamente com o focinho de iceberg em iceberg), mas faria mais sentido fazer a comparação com um acidente de um bote ocupado por meia dúzia de desgraçados. É que, ainda assim, havia muito mais gente no Titanic do que espectadores nos jogos da lagartagem.
Será sábio, para motivar os jogadores antes de um jogo de importância fundamental para a sobrevivência de um clube falido, invocar um filme sobre um naufrágio em que morre gente aos magotes? Provavelmente sim, se se tratar de um moço prevenido e a mensagem que se quer transmitir for ‘é melhor começar a preparar os coletes e ver se há botes para toda a gente’.
Aproveito para descodificar as bizarras afirmações que deixaram muita gente a coçar a cabeça (excepto o Pedro Barbosa, que tipicamente não coça a cabeça porque isso descola o capachinho) sobre como o que mais o enervou no filme Titanic foi ‘ver alguém entrar nos barcos salva-vidas destinados apenas às senhoras e às crianças’. É particularmente evidente que está a avisar o Rochembolha que não deve ir no barco destinado ao Miguel Veloso e aos miúdos (Moutinho, Carriço e Pereirinha). Quanto mais não seja, porque as hipóteses do barco se virar aumentam exponencialmente.

segunda-feira, agosto 17, 2009

 

Rol(o) de notas

- As equipas do Carvalhal metem nojo porque não jogam futebol e são infantis. Jogam a qualquer coisa semelhante a futebol humano, porque não precisam da bola para nada, e gostam de brincar aos médicos, a julgar pela quantidade de vezes que se atiraram para o chão e pediram assistência;

- O Carvalhal fica com aqueles encantadores aglomerados de saliva seca (vulgo ‘merdazinhas brancas’) nos cantos da boca quando fala, o que é um bocado para o nojento. E aposto que cheira mal. Ah, e sugiro que enfie aquele punho que agitou despudoradamente para o público benfiquista no final do jogo num sítio onde o sol não brilha. Proponho que o faça aquando do jogo com o clube do Guarda Abel, altura em que tipicamente tem o esfíncter anal bem aberto e receptivo a presentes;

- A agremiação de queques de camisolas engraçadas não joga um caracol. Foram recebidos no aeroporto à chegada da Madeira por umas dezenas de queques e há quem diga que os insultos chegaram ao nível do ‘seus horríveis’ e ‘estamos mesmo muito chateados’, tendo existido comentários desagradáveis sobre a forma como os cintos dos jogadores não combinavam com os sapatos e como o Tonel ‘come de boca aberta’.
Ainda não marcaram nenhum golo. Mas os adversários, simpáticos como são para gente que sofre dificuldades - ninguém fica indiferente a um sem-abrigo - marcam por eles. Caridade deslocada, porque depois acabam por ir à Liga dos Campeões e usam o dinheiro para comprar roupa de marca e para pagar ao Bettencotonete para andar a cantar músicas anti-Benfica. Nunca sobra é para comprar jogadores;

- Ao Luís Sobral e ao João Querido Manha, queria dizer-lhes que me sinto pessoalmente ofendido com o Universo pela sua existência. Mas quero crer que há um sentido obscuro para tudo isto e que, pelo menos, um dia (quando a natureza seguir o seu curso) irão servir de adubo e isso possibilitará o nascimento de plantas e florzinhas engraçadas;

- O Jesualdo diz que ‘é fácil expulsar o Hulk no futebol português’. E depois vai-se a ver e é a primeira expulsão do Hulk desde que cá está. Depreende-se, portanto, que o Jesualdo acha que está a trabalhar numa qualquer liga estrangeira e começo a suspeitar que aquilo que fuma quando está no banco não é tabaco;

- O Adriano ameaçou abrir a boca e os meninos do clube do Carlos Calheiros trataram de, preventivamente, certificar-se que não se perceberá nada do que ele irá dizer. Sem dentes a dicção piora significativamente e com um traumatismo craniano as frases tornam-se necessariamente mais pequenas e talvez, até, inexistentes;

- Hoje nos jornais lê-se que ‘Salvador critica Jesus ‘. A notícia lida assim, de chofre, parece ser sobre um Messias com dupla personalidade numa espécie de problema do foro psiquiátrico-religioso. Mas não, trata-se do Chihuahua de Braga, que se juntou ao fantoche que treina a sua equipa nas críticas encomendadas ao Jesus. Em Dezembro esperam-se em Braga pelo menos mais 5 jogadores emprestados pelo clube do Martins dos Santos e cheques-oferta para uma série de casas de diversão nocturna de reputação duvidosa.

quinta-feira, julho 09, 2009

 

Balas de borracha

Por estes dias pululam pelas caixas de comentários dos posts da Tertúlia alguns snipers munidos de balas de borracha/pólvora seca que lá vão sistematicamente deixar gotas bacocas de desconfiança sobre a gestão do Benfica. Não sei, honestamente, qual é o seu intuito (mas posso adivinhar).

Vêm, pé ante pé e, por entre elogios com água no bico e manifestações irresponsáveis de ignorância sobre as questões de que falam, lançam suspeições vagas, comentários à chico-esperto portuga que sabe coisas (mas não as quer dizer todas), bocas à lá Octávio Machado (‘investiguem’, ‘vocês sabem do que é que eu estou a falar’) e pequenas adivinhas hipócritas e plenas de segundas intenções ('sabem onde foi contabilizado isto', 'sabem o que anda a fazer o senhor tal', 'sabem quanto se gastou em clips?').

Comigo, what you see is what you get. Posso ser bruto, sim senhor, mas levam com o que penso, sem subterfúgios, sem qualquer tipo de fitos encapotados. Não há cá agendas escondidas sob pretensas maciezas, não adoço a pílula, não danço à volta dos assuntos, não visto hipocritamente peles de cordeiros. Gosto de pessoas que são o que são, que dizem ao que vêm, que frontalmente me escarrapacham a agenda em frente mesmo que ma atirem à cabeça. Não gosto, não tolero, não compreendo – foge à minha percepção - gente que envolta em capas de nobres intenções e polida lisura vai dando navalhadas e fugindo, vai mandando tiros para o ar a ver se acerta numa águia.

É absolutamente legítimo criticar o que se queira criticar no Benfica. Mais, esse sentido crítico, na plena demonstração desta profunda democracia que será sempre parte intrínseca do que é o Benfica, é essencial e vital para o clube. Mas exercido de uma forma responsável, justa, honesta. E não com base em equívocos, em farpas irresponsáveis, desinformando e incubando pequenos e purulentos furúnculos que vão infectando e crescendo para focos de desconfiança mal nascidos e injustificados.

O que estes atiradores furtivos dizem mostra um profundo desconhecimento da forma como é gerido o Grupo Benfica, qual a relação entre as empresas do grupo, como funciona o project finance do estádio e como funcionam os mecanismos de controle das contas das empresas e de auditoria. O que não os impede, no entanto, de elaborar irresponsavelmente sobre meias verdades. Como se isso não bastasse, sugerem, de forma intelectualmente desonesta, a existência de práticas pouco correctas e profundamente amadoras. Se há uma coisa com que não se pode pegar é com as contas do Benfica. São públicas, são transparentes como nunca foram, são objecto de um controlo apertado por parte das autoridades competentes e, muito especificamente, por parte dos auditores. Se algum clube há que permite ter a noção real e cabal de toda a sua realidade enquanto grupo económico, é o Benfica. Não estamos nos anos 80 nem no início dos anos 90.

Podia o Benfica estar melhor? Podia. Cometem-se erros? Cometem. É tudo uma maravilha? Não é. Mas está-se no bom caminho e o grupo é, acredito, gerido por gente séria com os superiores interesses do Benfica em mente.

O Benfica é gerido como um grupo, não como um conjunto de empresas isoladas, e é visível no seu todo. As empresas do grupo são todas detidas e controladas pelo Benfica. Todas – repito, todas – as empresas são integradas nas contas consolidadas. Há contratos celebrados com a Benfica Estádio no âmbito do Project Finance do estádio, há contratos celebrados com a Benfica SAD, há contratos celebrados com o Benfica, há contratos celebrados com a Benfica Comercial, há contratos celebrados com a Benfica Multimédia. Nas contas do grupo todas são consolidadas, o passivo global está absolutamente identificado. É muito complicado? Se calhar o que faz confusão a esta gente é que não façamos o mesmo que o SCP ou o FCP e escondamos dívida em empresas que não consolidam e que embelezemos as contas das SAD ou lá consolidemos apenas algumas empresas que fiquem bem na fotografia.

O que interessa é o grupo. Que raio interessa se alguma das empresas angaria financiamentos e funciona ou não como centro de financiamento das outras ou não, se isso é transparente e claro e se depois nas contas consolidadas tudo está incluído e se vê a verdadeira relação entre o cash flow gerado pelo grupo e a dívida total?

Há, evidentemente, contratos cujas receitas estão a ir directamente para os bancos com os quais se têm financiamentos de médio e longo prazo. Resulta directamente da reformulação da estrutura contratual associada ao project finance do estádio. É público, foi amplamente explicado pelos responsáveis do Benfica para quem verdadeiramente quis ouvir. A estrutura do financiamento passou inclusivamente por uma alteração no sentido da libertação de uma série de garantias e mordaças contratuais tipicamente associadas a um project finance - passando a assumir praticamente a natureza de uma dação ‘pro solvendo’, cuja figura jurídica implica o recebimento dos pagamentos de um conjunto de Contratos Comerciais associados ao Novo Estádio directamente em contas dos bancos, por forma a amortizar os financiamentos tidos com estes. O Contrato Comercial de Naming e Pouring Rights com a Centralcer era um deles.
Estão a ver? É simples, não configura qualquer prática pouco clara e é, inclusivamente, uma medida de gestão de absoluta racionalidade. A gestão financeira do Benfica é feita por gente séria, que sabe o que faz, na plena observância da lei.

Registo, não sem uma ponta de náusea, que foi exactamente este tipo de expediente das bicadas sistemáticas e pouco sérias com base em meias verdades que foi utilizado ao longo de meses por um candidato que ainda agora numa corrida a dois conseguiu ficar em terceiro.

Ainda não assentou a poeira de um processo eleitoral agitado por gente com o mesmo tipo de oposição irresponsável. Qual é o objectivo, qual é a necessidade disto, agora que tudo acabou e nos preparamos para, mais uma vez, nos equilibrarmos no ténue fio da esperança que nos separa do abismo e enfrentar mais uma época contra tudo e contra todos?

Como não quero ferir a susceptibilidade de quem ainda acredita no Pai Natal, na Fada dos Dentes e no Coelhinho da Páscoa (nada me surpreende: ainda há quem pense que o Cláudio Ramos é heterossexual e que o Augusto Duarte foi a casa do Pinto da Costa para ter aconselhamento familiar), e de quem poderá achar que ando para aqui à estalada com moinhos, vou-me abster de apontar as óbvias ilações a tirar de tudo isto.

De pirómanos com défice de atenção estou eu farto.

sexta-feira, julho 03, 2009

 

Luís Filipe Vieira, obviamente

Penso que ninguém tem muitas dúvidas, face ao que tenho escrito e ao que sempre defendi: eu voto Luís Filipe Vieira.

Isto é claro como água, e fica aqui registado, preto no branco, com todas as letras, sem espinhas, ambiguidades ou o que quer que seja: o momento é de firmeza e não me demito das minhas responsabilidades. O Benfica chama-me e eu digo ‘presente’.
Apoio, inequivocamente, Luís Filipe Vieira e a sua recandidatura. Para mim, é o melhor para o Benfica (e é isso, sempre, que me motiva).

E amanhã (hoje) lá estarei, de peito cheio, orgulho Benfiquista ao ombro e o destino na ponta de um dedo.

Acima de tudo, e face a tudo o que tem acontecido, apelo a uma ida às urnas em massa.
Que a força dos números mostre que o Benfica somos nós e que nunca – por mais campanhas sujas e baixas que se façam, por mais mentiras desavergonhadas e desinformação que se lance, por mais piruetas que se dê, por mais aviões que se aluguem - permitiremos que alguém tente tomar o Benfica de assalto contra a vontade dos sócios.

Viva o Benfica, sempre, para sempre!

quinta-feira, julho 02, 2009

 

E pluribus unum


Benfiquistas,


Estão habituados a ver – a ler – em mim a mais genuína das fúrias e uma impulsividade apaixonada (que nasce cá dentro, bem no fundo, onde todas as coisas verdadeiras nascem) e muitas vezes incontrolável quando se trata da defesa do Benfica. É assim que vivo o Benfica: de língua afiada, coração na boca e espada na mão, sem amarras, sem grilhões. É apaixonada a forma como vivo a defesa do Benfica: como uma Águia que protege o seu Ninho.
Eu, que amiúde todo sou garras de águia à flor da pele, venho aqui pedir-vos que, em nome do Benfica, saibamos honrar o nome do clube que nos abriga e agasalha e que tenhamos a dignidade e serenidade que este momento difícil exige.

Tenho lutado da forma que me é possível contra gente da estirpe de Bruno Carvalho – gente hipócrita, sem escrúpulos e que coloca os interesses pessoais (muitas vezes pouco claros) à frente dos superiores interesses do Benfica.
É meu compromisso pessoal – é uma promessa que faço – lutar até à última gota de sangue, até ao último sopro, para evitar que gente canalha se apodere do clube através de expedientes canalhas, amorais e profundamente contrários à matriz democrática do Benfica.

O que o candidato Bruno Carvalho deve ponderar é se acha que pode algum dia ser Presidente contra a vontade dos sócios. O que o candidato Bruno Carvalho deve ponderar é se considera que alguém algum dia poderá - se alguém algum dia terá legitimidade para - ser Presidente quando se tem mais de 95% dos sócios contra. O que o candidato Bruno Carvalho deve ponderar, se está na plena posse das suas faculdades mentais, é se acha que pode – se isto lhe passa pela cabeça - tomar o Benfica de assalto contra o Benfica. Contra os benfiquistas. O Benfica são vocês, o Benfica sou eu, o Benfica somos todos nós.

O que se exige, nesta altura, é que tenhamos calma e que tenhamos a dignidade que Bruno Carvalho não possui. E que lutemos pelo Benfica como o Benfica merece. O que se exige na Sexta-Feira dia 3 de Julho é uma votação em massa, de acordo com as convicções que nos conduzem, ao abrigo da democracia de um clube que é anterior à do país.

O que se exige na Sexta-Feira dia 3 de Julho é que mostremos a toda a gente o que é isto de ser do Benfica. Que mostremos de que massa somos feitos. Que lutemos pelo Benfica. Que ganhemos o direito ao Benfica.

O repto que lanço – o desafio que vos lanço – é colocar o Benfica acima de nós próprios, como sempre terá de ser. Votar em massa. Deixar o direito mais sagrado falar por nós, expressar, traduzir o que queremos. E depois, actuar com a legitimidade que esse direito nos dá.
Da minha parte, reafirmo-o, o que podem esperar é uma luta sem tréguas, sem quartel, sem prisioneiros, para que Bruno Carvalho não tome o Benfica de assalto. Para que Bruno Carvalho não conspurque o Benfica. E se para isso for preciso fazer petições, arranjar assinaturas, solicitar Assembleias Gerais e responsabilizar quem tanto mal anda a fazer ao Benfica, calcorrear o país de lés a lés ou transpirar sangue, fá-lo-ei, com um sorriso libertador na cara e uma determinação férrea e absoluta, própria de quem sabe que luta pelo que é certo e justo, e própria de quem é inteiro e verdadeiro, ainda que nada mais.

Às urnas. E depois à luta. Pelo Benfica. De muitos, (faça-se) um.

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