sexta-feira, fevereiro 18, 2005

 

A culpa morreu (mas não solteira)

O futebol é, de facto, um mundo à parte. Senão, atentemos nisto.
Imaginemos que, no decurso da minha actividade profissional (astronauta, portanto) eu me revelasse um absoluto incompetente e, como consequência, arrastasse a entidade patronal para o fracasso. Será que os responsáveis da empresa se iriam reunir e decidir ‘não, os contratos, mesmo os que podem ser rescindidos, como qualquer contrato de trabalho, são para cumprir até ao fim, mesmo que a empresa vá à falência, porque o que conta aqui são os compromissos que se fazem com as pessoas. O moço é bom rapaz, nunca nos faltou ao respeito. Fala um bocado demais, mas isso é um pormenor. Os accionistas da empresa que vão bugiar’. Ou será que a empresa decidiria, no pleno uso das suas competências, e em consonância com as práticas saudáveis de gestão, pelo meu despedimento, dado que a empresa e os restantes empregados estão primeiro do que o orgulho do responsável que me havia contratado?
Deixo a questão. Qual seria o modo de actuação?

Dado que é um dado assente que o sr. Trapattoni não treina a equipa, o que faz ele, verdadeiramente? Para que serve?
Para dar conferências de imprensa? E se, no decurso dessas conferências, proferir sistematicamente uma parafernália de disparates inenarráveis?
Para estudar as equipas adversárias? E se não conhecer, não só as equipas e treinadores adversários, como os jogadores do próprio plantel?
Para lançar novos jogadores? E se não tiver dado uma oportunidade sequer a nenhum dos jovens promissores que navegam pelas equipas de juniores e equipa B do Benfica?
Para fazer substituições? E se todas as substituições efectuadas forem de uma inépcia e pusilanimidade atroz, nunca resultando?
Para dar um ar de respeitabilidade, dada a sua provecta idade e experiência no futebol? E se o ar que dá for, ao invés, o de um absoluto imbecil que não sabe o que faz nem o que diz, alimentando assim uma panóplia de piadas por parte dos adeptos dos outros clubes (e do próprio clube)?

Atentemos ainda à lógica, para não ser acusado de inflamação pós-jogo miserável (uma particular condição médica que me tem afligido mais do que gostaria).
A lógica diz-nos que o Benfica tem um dos melhores conjuntos de jogadores da Superliga. Petit, Manuel Fernandes, Simão, Miguel, Ricardo Rocha, Luisão, Nuno Gomes (enfim, joga na selecção...), Nuno Assis agora. Porque é, então, que todas as outras equipas têm um fio de jogo e uma estratégia definida e o Benfica parece um conjunto de improvisadores? Porque é, então, que não trocam a bola entre eles? Porque é que a equipa joga como um conjunto desgarrado e não como uma equipa? Porque é que a equipa não tem chama, e se amedronta perante adversários medíocres?
Porque é que isso acontece, quando no ano passado, com, grosso modo, o mesmo plantel, a equipa tinha garra e jogava? Porque será?

Pode-se enfiar a cabeça na areia e fingir que não é assim. Pode-se fingir que é azar, que os jogadores é que têm a culpa. Até se pode culpar a conjuntura astrológica. O presidente pode brincar ao ‘professor ralha com os alunos’ e ir para o balneário chamar os jogadores à atenção sobre a aplicação dentro do campo. Pode-se (de forma absolutamente suicida) ir para a imprensa dizer que os adeptos não sabem o que dizem, e que não têm paciência, nem cultura táctica, nem sabem viver o dia-a-dia de apoio ao clube – isto dito por gente que é benfiquista há tempo insuficiente para ter comemorado o último campeonato, sendo que alguns chegaram a fundar Casas de outros clubes no estrangeiro. Pode-se dizer que no Benfica os contratos são para cumprir (numa tendência manifestamente obsessivo-compulsiva em cumprir contratos, depois do período ‘rasga isso’ do jovem Vale e Azevedo), e utilizar isso como argumento para manter um inepto a quem se tem, concerteza, de pagar uma fortuna como indemnização, e para não admitir o fracasso da política desportiva do responsável do futebol.

Mas também se pode ser sério e finalmente chegar à conclusão que, se todos os outros factores são eliminados, resta um. O treinador é um incompetente. E o que é se faz aos incompetentes?

Para mim, chega.

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