segunda-feira, março 07, 2005

 

Emotional Roller Coaster - Estranho modo de vida

Hoje em dia ser adepto do Glorioso é, no fundo, viajar num frenético Roller Coaster emocional. Tanto achamos, numa semana e depois de um jogo patético e sem ambição, que a equipa não vai a lado nenhum, como na semana seguinte, depois de um jogo em que se joga menos mal e se chega ao topo, achamos que vamos ser campeões. Isto pode ser muito engraçado do ponto de vista lúdico e competitivo, mas para a saúde mental é particularmente nocivo.
No fundo, somos junkies, agarrados pela Benficaína, Benfiólicos inveterados. Sabemos que aquilo faz mal, mas voltamos sempre para mais, sem termos hipótese de escolha. Quando corre bem é uma alegria incomensurável, um encantamento quase divino. Quando corre mal é fonte de tristeza infinita, um poço negro sem fundo, uma noite sem fim e uma agonia seguida de promessas vãs e doridas: ‘não vejo mais nenhum jogo, não me vou chatear mais com isto, não quero saber mais de nada’. A frenética viagem emocional que a Superliga deste ano nos reservou faz-nos, acima de tudo, parecer incoerentes, voláteis, pouco crentes. Isto leva a uma permanente reapreciação da nossa condição de adepto de futebol, essa bizarra e fascinante variante do sado-masoquismo, e do que ser adepto nesta medida significa para o modo como nos integramos no mundo. De como o facto do Benfica ganhar ou perder nos muda radicalmente a perspectiva de um dia, de uma situação, de como isso nos altera a percepção do mundo.
Imagino-me num recatado centro de recuperação para ferrenhos benfiquistas, privado de quaisquer meios de comunicação ou instrumentos dos media. ‘Olá, o meu nome é Gwaihir e sou dependente do Benfica. Já não vejo um jogo há duas semanas. Aprendi a apreciar o dia-a-dia. Vivo um dia de cada vez’. Imagino-me também a furar a segurança do centro e a fugir, passando pelo mais intrincado sistema de segurança, arame farpado ou cães de guarda, de modo a chegar perto de um aparelho de televisão e vislumbrar um momento fugidio de um jogo do Glorioso, apoderar-me de um rádio e devorar um relato, agarrar num jornal desportivo e ler as páginas com títulos em vermelho.

Bottom line: esta semana até acho que podemos ser campeões. Depois do próximo jogo, provavelmente vou achar, vou ter quase a certeza que não. Na semana a seguir, terei a certeza que sim. Haverá tratamento para isto? E mais importante ainda: será que quero ser tratado? Provavelmente não.

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