quinta-feira, abril 21, 2005

 

Os Burros

Sendo o Benfica o melhor e maior clube do mundo (e estou a ser conservador), isso naturalmente acarreta a sua quota parte de dores de cotovelo e invejas da parte dos poucos e tristes indivíduos que não vivem com o Benfica na alma. Aproximando-se o fim da Superliga, o facto do Glorioso ainda ir em primeiro enerva precisamente muita gente que faz da dor de cotovelo uma forma de vida. Nomeadamente, os clubes que já tanto investiram este ano em cafés com leite e galões, e noutras demais diligências no sentido de proporcionar agradáveis lanches aos árbitros (numa perspectiva altruísta, naturalmente), sentem-se particularmente defraudados. É natural que quem faça um investimento, dele espere um retorno razoável, na medida das suas expectativas, e em consonância com experiências passadas. É assim que se deve ler a pseudo-indignação (porque não é, na verdade, indignação, mas a velha táctica do ‘se se repetir muitas vezes uma coisa, as pessoas passam a acreditar nela’) generalizada aos principais adversários do Glorioso no que respeita à realização do jogo com o Estoril no Algarve. Falam em ‘promiscuidades’, ‘falta de transparência’, e o Presidente da Câmara de Braga fala em ‘batota’. Pois bem, numa perspectiva pedagógica, mas também profundamente humanitária – fica sempre bem ensinar os pobres de espírito, vamos ajudá-los a perceber uma série de coisas que serão, para uma pessoa com um QI superior ao de uma pedra da calçada, particularmente óbvias.

‘Promiscuidade’ e ‘falta de transparência’ é ter o estádio pago exclusivamente com dinheiros públicos (de todos nós) e depois usar um subterfúgio contratual para o clube o usar como seu. ‘Promiscuidade’ existe entre o poder político e o futebol, o que permite que determinados autarcas (com cargos quase vitalícios) desviem dinheiros públicos para orçamentos de clubes e SADs (de que a situação entre o Governo Regional da Madeira e o Marítimo também é um exemplo absolutamente atordoante) e promovam a concorrência desleal com clubes que vivem das suas fontes legítimas de receitas. ‘Promiscuidade’ são os convívios entre dirigentes de clubes e seus acólitos com árbitros e a política de incentivos e ofertas associada.
‘Batota’ é anular golos limpos aos adversários, é ganhar jogos com ajudas de árbitros, é fazer pressão sobre tudo e sobre todos - em jogos de manipulação com laivos de psicologia invertida - e chorar que se é prejudicado pela arbitragem quando se é, na verdade, beneficiado. ‘Batota’ é viciar jogos com ofertas de favores sexuais e outros que mais aos árbitros, é alterar datas de jogos e ‘pagar’ a clubes pequenos para limpar cartões a jogadores, é ter jogadores que fingem sistematicamente faltas dentro ou perto da grande área, é andar à pancada nos estádios e túneis de acesso e dizer que não se fez nada, é jogar sistematicamente contra equipas reduzidas a menos de 11 jogadores.

Perceberam? Nada disto tem a ver com a transparência, essa sim, de um clube que vive em profunda crise financeira e que não tem dinheiro injectado pela Câmara Municipal como muitos outros, muito claramente pretender juntar dinheiro para pagar salários em atraso de atletas que todas as semanas continuam a jogar. O Benfica, na esmagadora maioria dos estádios destes país, joga em casa, e encheria de forma esmagadora o campo da Amoreira, sempre. O Estoril, de forma transparente, está a usar isso em seu proveito, numa manobra financeira.

Se ainda assim não perceberam, é porque, se calhar, não são nem porcos, nem lagartos, nem lá que animal seja o Presidente da Câmara de Braga (que, em tempos, como dirigente do Braga, acedeu a jogar uma final da Taça de Portugal com o FC Porco nas Antas). São simplesmente burros.

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