sexta-feira, março 10, 2006
A avestruz
O Benfica tem um estádio grandioso e magnífico com mais de 65.000 lugares do qual apenas resta cerca de € 40 milhões para ficar totalmente pago (e repare-se, unicamente com recurso a receitas provenientes dos contratos de naming rights, publicidade e outros contratos comerciais – não desviando portanto qualquer cash flow da SAD para esse efeito). Trata-se de um Project finance puro, na medida em que o activo se paga única e exclusivamente com os cash flows dele resultante, mas com um pormenor muito importante. Os cash flows gerados pelo activo são de uma tal dimensão, que basta afectar ao serviço da dívida o tal desconto dos contratos comerciais, sendo que o resto (receitas de exploração, bilheteira e restantes receitas operacionais) aumenta a base de receitas do Grupo Benfica. Por outras palavras, o estádio, além de se pagar a si próprio, gera riqueza para o Benfica já durante o período em que ainda se está a pagar (sendo esta uma diferença fundamental face a outros projectos, mal estruturados, em que não se conseguem gerar receitas, sequer, para se pagar a dívida resultante do investimento no activo).
O Benfica, no âmbito do referido projecto (e, portanto, praticamente pago), possui um magnífico pavilhão com milhares de lugares, onde desenvolvem a sua actividade as restantes modalidades do Glorioso. O Benfica possui uma galeria comercial altamente rentável no complexo do estádio, com parcerias claramente vantajosas para as entidades que exploram as estruturas, e para o Benfica.
O Benfica tem um Centro de Estágio ao nível dos melhores do mundo, a ser estreado a qualquer momento. Um investimento efectuado de forma absolutamente controlada, e num quadro de diminuição da dívida total do grupo.
O Benfica tem tudo isto, e enquanto reuniu as condições para ter tudo isto, efectuou uma gestão exemplar de potenciação da marca Benfica e uma revolução a nível do controlo da actividade, que lhe permitiu obter um acréscimo substancial da base de receitas fixa (e, portanto, não sujeita à volatilidade inerente ao fenómeno desportivo).
O Benfica, além do sucesso desportivo, é hoje um clube gerido de forma irrepreensível, reestruturado e equilibrado, e a evolução das contas mostra isso mesmo. O Benfica, hoje, tem um controlo absoluto dos aspectos de gestão das empresas do grupo e apresenta, de forma clara e transparente, as contas consolidadas e auditadas. Se alguém quiser saber o passivo total, ou a dívida remunerada, basta ir ao relatório consolidado. Se alguém quiser saber as receitas consolidadas basta ir ao relatório consolidado. Se alguém quiser saber qualquer valor agregado, basta ir aos relatórios.
O Sportem é um clube absolutamente descontrolado, delapidado por gestores que se venderam em praça pública como defensores da ‘gestão racional, rigor e honestidade’, mas que na verdade, por força de uma visão distorcida, deixaram o clube completamente refém de um projecto desajustado da realidade. O colapso do Sportem dá-se, essencialmente, por uma falta de humildade absolutamente atroz por parte dos responsáveis, na medida em que não quiseram reconhecer a reduzida dimensão do clube e da sua base de apoio, tendo arquitectado um projecto sem efectiva sustentação na realidade. O Sportem não tem um potencial de exploração de receitas capaz de sustentar um projecto sequer com um estádio de 50.000 lugares (diria que o razoável seria 30.000), e não tem um potencial que seja sequer um terço do potencial do Benfica. Custar-lhes-á admitir isto, mas é a mais pura verdade, e o seu reconhecimento pouparia uma série de equívocos e situações desagradáveis.
O projecto do estádio é uma espécie de ‘case study’ de como não se deve estruturar um projecto, e a táctica da fuga para a frente seguida pelos tais gestores ‘sérios, rigorosos e honestos’ durante todo este período, aliado ao desequilíbrio estrutural do grupo e à total e absoluta promiscuidade entre empresas do grupo (espalhando dívida por todos os cantos, e tentando criar valor de forma artificial), levaram a um acréscimo gradual da dívida e a um total descontrolo da gestão. Não se faz a consolidação das contas do grupo e, dada o incrível emaranhado de relações intra-grupais, nunca se consegue ter uma ‘big picture’ dos agregados totais e da dimensão do desastre.
Foi assim que os sportinguistas foram enganados até agora. Mas também com recurso à táctica da repetição até à exaustão (‘somos muito sérios’, ‘os outros, nomeadamente o Benfica, são uns aldrabões’) para dar a ilusão de realidade e tatuar certas noções nas mentes dos sportuinguistas e da opinião pública em geral, e a manobras de diversão que se consubstanciam, invariavelmente, em gerir a animosidade para com o Benfica. No fundo, em amestrar e instrumentalizar o antibenfiquismo das hostes sportinguistas. Em aperto, e em épocas de menor apoio popular, o recurso mais utilizado – e normalmente infalível – é acicatar esse gigantesco mecanismo ideológico que pauta a vida de tantos sportinguistas – o antibenfiquismo. Por outras palavras: quando tudo parece falhar, a estratégia a seguir é atacar o Benfica para ganhar o apoio das massas sportinguistas.
Vem tudo isto a propósito do recente, injustificado e absolutamente inesperado e bizarro ataque de Filipe Soares Franco ao Benfica, agitando-o como bandeira eleitoral numa tentativa desesperada de ganhar o controlo das massas. Diz o senhor que: ‘O Benfica tem um passivo maior e não tem património para vender’. É uma piada. Valerá a pena sequer tecer considerações sobre isto? É o mesmo que se tentar explicar a alguém que a Terra não é quadrada. Estará na plena posse das faculdades mentais? Existirá um obscuro vírus da senilidade nas instalações do Lumiar, que depois de consumir o pobre Avô Cantigas, ataque agora a Avestruz de Alvalade?
Caro senhor, o Benfica tem tudo aquilo que eu já disse, enquanto que o Sportem o que tem é dívidas e activos à beira da hipoteca. Aquele estádio onde o senhor se esteve a enfrascar no camarote da última vez que para lá foi convidado é nosso e não está em risco de ser dos bancos, como o vosso. O Glorioso, meu amigo, diminuiu o passivo (total) em € 60 milhões no último exercício para € 315 milhões (total, de todo o grupo) e tem dívida remunerada consolidada (TOTAL) de € 175 milhões (incluindo a dívida do Project finance do estádio, que como expliquei, quase não tem risco).
O Sportem, caro senhor, tem um passivo total anunciado por V.Exas de € 400 milhões (com dívida remunerada de mais de € 250 milhões). Se isso é o que admitem, imagino quanto não será a imagem real do emaranhado do grupo.
E, depois, tenha-se também em atenção a diferença de dimensões (sendo que até seria normal se o nosso passivo fosse maior, caro e desorientado senhor).
Além disso, pobre candidato, temos um património de 14 milhões de almas. E vocês?
É claro. O sr. Presidente-substituto-que-era-apenas-para-assegurar-a-gestão-e-não-se-candidataria-mas-agora-quer-tacho, confrontado com as recentes sondagens sobre o património do Sportem e perante a convulsão popular associada à Assembleia Geral e a possibilidade de não lhe aprovarem o projecto ou de não ser eleito, o que faz? Activa o mecanismo de emergência, o ‘manual override’ quando a máquina se encontra em rota de colisão: invoca o antibenfiquismo. ‘Vamos lá apelar ao mais primitivo e seminal (e, logo, infalível) dos sentimentos e unir as hostes contra um (o) inimigo comum. Costuma funcionar, e sempre desvia as atenções do que se devia verdadeiramente discutir’.
É baixo, mesquinho e profundamente revoltante, porque ninguém deveria poder mentir de forma tão aviltante.
Não tenho prazer nenhum, acreditem-me, em estar para aqui a tecer considerações sobre o Sportem. Não tenho nada a ver com vida do Sportem e gostaria muito de não ter sequer de o referir. Mas não posso – é-me organicamente impossível – estar calado quando uma pessoa (que até achava relativamente séria) com responsabilidades que lhe deviam pesar no discurso, mente descaradamente (por desespero) e ataca o meu BENFICA, de forma caluniosa, baixa, desonesta e profunda e revoltantemente falsa. Já aqui o disse, e volto a dizer: o que me move, SEMPRE, é a profunda devoção à Águia e ao meu Benfica.
As declarações são de tal forma falsas e desajustadas da realidade que das duas uma: ou estava profundamente embriagado quando as proferiu (o que, convenhamos, não seria a primeira, nem a segunda, nem a terceira, nem a quarta, nem a quinta, nem a sexta, nem a sétima – bom, o difícil será encontrar afirmações proferidas na plena posse das suas faculdades mentais – vez) ou será tão profundamente lerdo e obtuso quanto a sua incrível e bizarra semelhança com uma avestruz dá a entender.
Já sabemos que a grandeza do Glorioso leva a que este seja um elemento omnipresente em quase todas as facetas da vida nacional e internacional, e a que pessoas de questionável estrutura moral o aproveitem para desviar as atenções de situações que pretendem branquear. Mas bandeira eleitoral de um candidato à presidência do Sportem??. Não, obrigado. DEIXEM O BENFICA EM PAZ.
p.s. não tenciono voltar a esse assunto. A verdade é por demais evidente.