sexta-feira, maio 19, 2006

 

Um de nós (como o Chalana)


Devo dizer que é com indisfarçável emoção que vejo o Glorioso orientado (ainda que provisoriamente) por um dos maiores símbolos do meu Benfica. É como se o destino tivesse lógica. Para mim (e isto é uma visão muito pessoal, naturalmente), o Chalana é uma lenda que apenas é ultrapassada pelo Eusébio.
O Benfica com o qual acordei para o Mundo, e que para mim sempre terá um lugar muito especial no coração, era o Benfica do Bento, do Humberto, do Bastos Lopes, do Pietra, do Veloso, do Alves, do Shéu, do Nené e desse prodígio que espalhava inverosimilhança pelos relvados, o Chalana. Esse Benfica é o Benfica que me formou. E, para mim (sendo que o Benfica é sempre o melhor do mundo), é o paradigma do Benfica místico. A autoridade e altivez do general Humberto, a inigualável magia do Chalana. Era o Benfica à Benfica. Cada um deles era, para mim, o melhor do mundo na sua posição.
Sei que o Benfica místico por excelência, provavelmente o melhor de sempre (e a melhor equipa do mundo nos anos 60), terá sido o do Eusébio, Coluna, Torres, José Augusto e companhia. Esse, tenho-o na alma (como não?), mas vivi-o em diferido. Este outro Benfica - o do Chalana e do Humberto - foi aquele com que cresci, aquele com que aprendi o que é o Benfica, o que é isto de viver com a Águia na alma. E é esse – como tudo o que nos marca quando nos estamos a formar como pessoas – que guardo como o ‘meu’ Benfica (são todos o ‘meu’ Benfica, mas vocês sabem do que é que eu estou a falar).

Ver o Chalana, hoje, a orientar o Benfica – o Chalana que, de Águia ao peito, nos fazia acreditar que o mundo não é só isto - é uma espécie de regresso a casa. É o Benfica comandado por um dos seus filhos.
E é por isso que, sabendo que provavelmente isso não acontecerá, gostaria de saber – dar-me-ia um conforto tremendo - que seria um benfiquista a comandar o Glorioso. Saber que o treinador choraria as derrotas como nós as choramos nas bancadas da Catedral, que lhe doeria a alma da mesma forma que nos dói a nós, que celebraria as vitórias como nós as celebramos.
E é, também, por isso que ter o Humberto e o Chalana na mesma equipa técnica ao comando do Benfica é algo que teria um significado muito especial para mim.

Venha quem vier, que seja alguém com quem a gigantesca alma benfiquista tenha empatia, que seja um de nós. É a chave para o sucesso, e é o que considero mais importante nesta altura – acredito firmemente nisso. Mais do que tácticas, ciência desportiva ou o que lhe quiserem chamar, o que é preciso – o que faz verdadeiramente falta – é um elemento aglutinador da gigantesca vontade benfiquista. Alguém que tenha um capital de confiança tal por parte dos adeptos que lhe permita suportar as derrotas que (inevitavelmente) surgirão pelo caminho. Alguém que nas bancadas saibamos que tudo faz, como nós faríamos - até ao limite das nossas forças - para ganhar e honrar aquele símbolo místico, aquele estádio celestial e o mundo de gente que forma a alma benfiquista, e alguém que nos apeteça confortar (e não apupar) na hora das derrotas.

Um de nós.

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