sexta-feira, julho 28, 2006

 

Crónica de uma desgraça anunciada

Pois. E eis que se concretizam os meus receios.

Perdoem-me o desabafo, mas vai ter que ser.
Não me agrada particularmente ter razão nestas circunstâncias, mas era absolutamente previsível. O Fernando Santos é um treinador ultrapassado, sem carisma e com o perfil diametralmente oposto ao que faria sentido nesta entusiasmante fase de dinamização do Benfica e da sua gigantesca base de apoio.

O Benfica de ontem foi uma equipa amorfa, mole, afunilada, desorientada e sem capacidade física. Há muitos anos que já não se usa aquele modelo ridículo de uma miríade de passos para os lados e para trás, com os jogadores parados e todos encafuados no meio campo, sem qualquer estratégia de rompimento de marcações ou qualquer vislumbre de dinâmica. Assim a equipa não causa perigo (salvo lances individuais episódicos), não usa as alas – como qualquer equipa do futebol moderno faz – e não faz qualquer tipo de pressão (como qualquer equipa que persiga o domínio do jogo tem de fazer) sobre o adversário, deixando-o jogar absolutamente como lhe convier (o que é incompreensível, face às declarações do Fernando Santos no início da pré-época).
Pior de tudo, assim desperdiça-se estupidamente o talento de vários jogadores acima da média que temos e – o que é pior – mina-se a confiança de toda a gente: jogadores (conseguir pôr gente como o Anderson, Léo, Miccoli, Rui Costa a jogar mal é obra) da própria equipa técnica e dos adeptos. Começa-se a cavar o fosso da crescente desconfiança nas suas próprias capacidades.
O jogo de ontem foi uma absoluta miséria e chegou a ser patético. Eu avisei que assim teríamos problemas com as equipas pequenas.

Numa altura em que a grandeza do Benfica se vai alavancando naquilo que de maior temos – a massa adepta – e em que ultrapassámos o Manchester United como o clube com maior número de sócios (e pagantes) do planeta (vamos em 152.805 e só falta mesmo a confirmação oficial do Guinness Book of Records), consolidando a nossa condição de maior clube do mundo, o que se impõe – o que se impunha – era alguém capaz de ele próprio alavancar essa boa vontade, esse capital de confiança e acompanhar o ímpeto e força do clube.
O que acontece, assim, é que se desperdiça de forma criminosa tudo isto, e temo que este ano o Estádio da Luz se torne numa fonte de pressão intolerável para a equipa técnica, ao invés do inferno de apoio que deve ser. É que, objectivamente, nenhum benfiquista digno desse nome se revê na patética demonstração de fragilidade de ontem.
Mas reparem, o problema não é a actuação de ontem como um acto isolado, como uma queda circunstancial. Não. Se fosse um percalço, um acidente, lamentar-se-ia, mas seguir-se-ia em frente, apoiando incondicionalmente a equipa, tendo fé que às vezes se aprendem lições inestimáveis com algumas derrotas. Não.
O problema é que o jogo de ontem deriva exacta e essencialmente da visão que o Fernando Santos tem para o futebol do Benfica, da sua estratégia e sistema de jogo e, como tal, isso faz perspectivar que o que aconteceu ontem se irá repetir demasiadas vezes ao longo da época. Essencialmente, porque é àquilo que o sistema ultrapassado do Engenheiro nos sujeita.

Como tal, em circunstâncias normais, diria, venha o Áustria de Viena que morre. Assim, direi que se o clube austríaco vir os vídeos dos jogos do Glorioso tem meio caminho andado.

O ideal seria remediar tudo isto antes que fosse tarde demais, perceber o alcance que isto terá na estratégia do clube para este ano, e escolher um treinador moderno, inteligente, perspicaz e ganhador. Mas isso não vai acontecer.

Resta-nos ter esperança. Nada me daria mais prazer que voltar aqui para engolir tudo isto que escrevi.

FORÇA BENFICA

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