quinta-feira, setembro 07, 2006

 

Santa paciência


Já sabemos que o timoneiro Scolari é um homem profundamente religioso, como atesta a sua devoção à Nossa Senhora de Caravaggio e as suas preces antes e durante os jogos.
Nada contra. Sou agnóstico e a minha filosofia de vida traduz-se essencialmente no princípio de que cada um é livre de fazer o que bem entender, como bem entender, desde que não prejudique os outros.

O que já acho mal é que a sua forma de viver a religião resvale para a palhaçada da sublimação do sofrimento como forma de libertação.
Há movimentos e ordens religiosas que usam e abusam da penitência, do sofrimento auto-infligido como forma de atingir a pureza espiritual. Algumas ordens e fanáticos religiosos chicoteiam-se até o sangue escorrer profusamente. O Scolari, por seu lado, põe o Ricardo Costa a jogar. O nível de sofrimento é, nesta circunstância, substancialmente superior ao de uma fustigação e, grosso modo, equivalente a uma das mais fascinantes torturas (do ponto de vista do torturador, naturalmente) infligidas por um religioso dominicano nos bons velhos tempos da Inquisição (e não estou a falar da Inquisição espanhola dos Monty Python).
Além disso, o sofrimento infligido pela inclusão do Ricardo Costa da equipa não vai, com toda a certeza, levar a qualquer tipo de libertação a não ser a libertação do espaço entre os avançados adversários e a baliza portuguesa.

A diferença fundamental aqui é que os iluminados que se fustigam, vivem-no como uma experiência pessoal e não causam sofrimento a mais ninguém. Já o Scolari, imbuído de devoção exacerbada, não só administra dozes de sofrimento desumano em si próprio, na restante equipa técnica e na selecção, como inflige um tormento que imagino semelhante à remoção da genitália com recurso a uma tesoura da poda em todos os portugueses e em quem segue os jogos da selecção.

É que - e pela parte que me toca - se há uma coisa para a qual não tenho claramente vocação, é para ser mártir.

A bem da diversidade religiosa, e da sanidade mental dos portugueses, Sr. Scolari, é favor deixar o Ricardo Costa onde faz sentido: no FC Porco (em cuja cultura ele se encaixa perfeitamente, como bem demonstra a quantidade de fífias e cartões amarelos que acumula).

Não convém testar a paciência divina muito mais tempo. É que, com o Ricardo Costa em campo, não há Nossa Senhora do Caravaggio, ou qualquer outra entidade divina, que lhe valha.

Ámen.

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