terça-feira, dezembro 04, 2007

 

A alegria de Dar e as verdades imutáveis

Vamos lá ter calma. Por entre o barulho ensurdecedor dos abutres que estavam ansiosamente à espera de um deslize do Glorioso, dos benfiquistas enlouquecidos de dor e que disparam em todas as direcções, dos jornalistas imbecis (passe a redundância) e dos demais espécimes que pululam pelo futebol português (já agora, o Rui Santos não pulula: isso lançar-lhe-ia aquele lindíssimo monumento às estruturas capilares num profundo turbilhão; não: o Rui Santos rasteja, que assim não se despenteia) urge dar um passo atrás e olhar para o todo. At the big picture.

Convenhamos: no essencial, nada mudou. Sim, está bem, o Glorioso não ganhou um jogo com a Associação Desportiva de Casas de Alterne do Norte. É aborrecido? É. É chato? É um bocado. Mas é altruísta, e isso é bonito.
Isto porque o Glorioso basicamente deu avanço (como é usual dar-se, numa atitude paternalista, aos mais pequeninos). Mais propriamente, deu metade do jogo de avanço, numa atitude profundamente adequada à época festiva. Sempre nos disseram para termos uma atenção especial para com os mais desfavorecidos na época das festas. Pois muito bem: o Benfica não se fica pelas palavras. Não. O Benfica actua em conformidade. O Benfica, do alto da sua grandeza, distribui felicidade pelos pobres de espírito. O Benfica, qual Pai Natal do futebol, qual filantropo do desporto nacional, distribui presentes pelos mais carenciados (gente que é de outros clubes e que, logo, não tem a felicidade de partilhar esta dádiva que é ser do Benfica). É bonito. Comove. Eu cá achei simpático, toda aquela gente vestida de azul e claramente portadora de deficiência mental com grandes sorrisos escarrapachados naquelas caras sem dentes e cheias de cicatrizes.

Por isso, custa-me a perceber esta onda de críticas. Quer dizer, é ‘dar’ e ‘sermos para os outros’e ‘ah, e o Natal’ e ‘ajudar os pobres e tal’ e quando o Benfica, dando o exemplo, faz exactamente isso, é ‘menino’ e ‘ai o campeonato’ e tudo isso. Está mal.
Eu também gosto de dar (especificamente de dar arrochadas quando se trata de malta do FC Porco, é verdade, mas isso é uma preferência pessoal).

Dir-me-ão que sim – ‘tá bem, é bonito, sim senhor – mas que ainda assim é aborrecido porque isso implica deixar entrar em casa gente tão civilizada como uma manada de búfalos com diarreia. É verdade. Há uma parte do estádio que precisa de ser lavada a rigor e desinfectada, e isso é aborrecido. O que levanta algumas questões. Sendo as claques da Associação Desportiva de Casas de Alterne do Norte, no fundo, produto intestinal da sociedade, não faria sentido acomodá-las em instalações sanitárias com capacidade e escoamento para tamanho festival de, vá lá, imundície? Parece-me que sim. Acho razoável, nessa medida, passar a colocar nestes jogos as claques da AD de Casas de Alterne do Norte, sei lá, no Alvalixo - que é no fundo um WC gigante e onde já se recebem grandes doses de porcaria de 15 em 15 dias - onde poderão ver o jogo com recurso a ecrãs gigantes, enquanto nós ficamos sossegados e com o estádio limpinho. Fica aqui à atenção dos responsáveis.

Mas, como dizia, nada mudou, e nunca vai mudar, e isso é reconfortante. Dêmos o passo atrás e reflictamos.

O Benfica continua a ser o Maior e Melhor Clube do Mundo (quanto muito, a magnanimidade evidenciada faz aumentar a sua grandeza). A Associação Desportiva de Casas de Alterne do Norte continua a ser uma espécie de infra-estrutura desportiva para os criminosos poderem fazer exercício, que até organiza passeios pelo país (com especial ênfase nas estações de serviço) para malta que já esteve na prisão. A Associação de Queques de Camisolas Engraçadas continua a ser patética e a primar por ter Presidentes que conseguem ser mais ridículos que aquele correspondente da RTP em Moscovo que parece uma mistura bizarra entre um foragido de uma instituição mental e um boneco do South Park.


p.s. 1 tive oportunidade de ver mais um bocado da telenovela do Sportem em que aparecem o Salema Gayzão, a Avestruz de Alvalade e comunicados a declarar o adjunto do M. United como ‘persona non grata’ (repare-se: ‘persona non grata’, não é cá ‘gajo que não é bem-vindo’ ou ‘corte de relações com o fulano tal’. Não, não: ‘persona non grata’, que é para o pessoal perceber que isto é gente com pedigree, que sabe o seu latim. Gente parva e à beira da cirrose, mas que sabe o seu latim) e devo dizer que afinal fui muito injusto com o correspondente da RTP em Moscovo. O adjectivo ‘ridículo’ adquiriu, de repente, toda uma nova dimensão;

p.s.2 já devem saber isto, mas nunca é demais frisá-lo: comentários a este post, só passam os elogiosos. Os outros são pulverizados, com muito prazer. Querem uma democracia, vão para a Venezuela.

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