sábado, dezembro 13, 2008

 

O que faz correr Jorge Curvado - Uma biografia não autorizada (e francamente parva)


A pedido de várias famílias (claramente disfuncionais), segue um momento induzido por uma overdose de Rennies.

O que faz correr Jorge Curvado? Além dos cães raivosos que sistematicamente o perseguem (devido à sua má aparência), há quem diga que é a esperança irracional que a deslocação de ar lhe aligeire as feições, deformadas pela azia crónica.

Em boa verdade, para entender o que move Jorge Curvado é necessário arregaçar as mangas e remexer na imundície viscosa da sua história como se se estivesse a tentar desentupir uma sanita depois de um festival gastronómico de feijoada.

Jorge Curvado nasceu a 31 de Fevereiro de 1856 (ou 1956 – a doutrina diverge devido à imperscrutabilidade das suas feições) em Urinais de Baixo no seio de uma família de transformistas, tendo passado a infância trancado num armário devido ao que os seus progenitores chamavam de ‘incrível má aparência’. Jorge assustava as crianças e os animais da vizinhança (e os adultos, para ser honesto) e chegaram a ser constituídas milícias populares para tentar caçar o bizarro bicho ‘meio furão meio camelo’ (de acordo com a Gazeta de Urinais) avistado nas redondezas em dias específicos em que o Jorge conseguia escapar de casa para apanhar ar.
Jorge cresce, assim, num meio hostil, sendo também ostracizado na escola (para onde era transportado pelos pais numa furgoneta dentro de um saco de serapilheira). As outras crianças não o deixam jogar à bola porque quando está em campo toda a gente se esquece da bola preferindo dar-lhe pontapés a ele, o que prejudica o fio de jogo. Jorge vai alimentando um ressentimento contra a sociedade em geral (e contra o futebol em particular) e cria um amigo imaginário (o Neves), como escape. A relação acaba de forma azeda quando o Neves lhe dá uma carga de pancada imaginária, e Jorge agudiza o seu rancor, passando os dias a arquitectar planos megalómanos de controlo do Mundo através de piaçabas telecomandados vestidos de árbitro.

Por esta altura, Jorge é também um garoto limitado ao nível intelectual. Repete a escola primária 31 vezes até o passarem para o ciclo por não caber nas carteiras da escola e um boletim escolar recentemente descoberto mencionava, em termos detalhados, o facto de ‘ser burro como uma pedra da calçada’. Jorge cultiva um distanciamento social crescente, a que não é alheio o bizarro problema psicológico que o obriga a usar collants nas orelhas e a andar como se estivesse permanentemente a tentar sentar-se. É nesta altura que, toldado pelo desgosto, começa a fumar talos de alho francês, hábito que o acompanha até aos dias de hoje e lhe vai provocar uma azia recorrente.

Os anos passam e, em casa, refugia-se no conforto do seu armário e sonha fascinado com o dia em que seguirá a tradição familiar. Até ao dia em que um tio, não sem uma ponta de razão, lhe transmite que ‘ninguém no seu perfeito juízo quer ver um furão vestido de mulher’. O mundo de Jorge desaba e dá-se um acontecimento basilar no seu percurso. Percebendo que nunca será uma mulher, nem sequer a fingir, e que nunca vai sofrer a menstruação, ganha um asco irracional a tudo o que seja vermelho. É o início de um ódio para a vida.

Possuído pelo desgosto, Jorge tenta refugiar-se no álcool, até perceber que o álcool não é um país e que, ainda por cima, fica bêbado apenas com meia imperial.
Resolve partir numa longa viagem de reflexão e auto-descoberta para o estrangeiro. Jorge considera – dadas as suas limitações intelectuais – como ‘estrangeiro’ qualquer lugar situado a mais de 500 metros de casa e, portanto, desaparece durante um dia e meio no Bombarral, onde perscruta o destino. O destino não gosta e perscruta Jorge de volta que, aterrorizado, solta um gritinho efeminado, bizarramente semelhante a um apito. A sua vocação torna-se evidente.

Quando regressa é um homem (uso livre da palavra) novo e tem o caminho traçado (com seven up, que o vinho é rasca). Vendo o seu sonho de enveredar pelo transformismo desfeito, opta pela alternativa mais comparável, onde pode dar asas ao seu espalhafato natural e fazer poses de sexualidade espampanantemente ambígua. É perfeito, pensa Jorge, porque adicionalmente pode tentar destruir os seus ódios de estimação: o futebol e o vermelho. Tudo se torna claro. Os astros alinham-se, as três tecedeiras soltam risos de satisfação. É o destino. Jorge envereda pela arbitragem. Vai tentar dar cabo do futebol e do clube que é o maior expoente do mesmo. E que é vermelho. Ah, a poesia do destino.

A carreira do andrógino rapaz na arbitragem é marcada pela profunda elegância na amostragem de cartões (produto dos genes transformistas) e pela crescente constatação que a azia crónica tem efeitos devastadores na capacidade de visão. Quem não se recorda, por um lado, da singular leveza com que Jorge se movia em campo, saltitando de nenúfar em nenúfar, a acompanhar os lances como uma gazela hermafrodita; e por outro, da sua visão profundamente deteriorada que originava a anulação de lances legais e a amostragem de cartões sem fundamento ao Benfica, por entre arrotos guturais denunciantes de uma azia galopante?

O moço Jorge, talvez exactamente por estar em voga quando em voga estava deitar abaixo o Benfica, é agraciado com alguns prémios de prestígio, como a medalha de mérito desportivo do Governo da República (das Bananas) e o troféu ‘Furão do Ano’. Torna-se sócio de mérito da Federação Portuguesa de Transformismo, o que o reconcilia com o destino. O destino não gosta e traz ocasionalmente de volta o Neves para o espancar, o que se torna um hábito ao longo da vida de Jorge.

Finda a brilhante (por causa das lantejoulas) carreira, torna-se ‘comentador’ de arbitragem em futebol de 14 (a sua modalidade favorita) nos mais variados meios audiovisuais, que usa como plataforma para, simpaticamente, vomitar o seu ódio ao Benfica. Simpaticamente porquê? Porque é simpático para o Benfica ter alguém assim como adversário. Como adepto seria deprimente.

É, ironicamente, nesta fase da vida que recebe o prémio definitivo: o Bidé de Ouro, atribuído pela Tertúlia Benfiquista.

É de homem.

Passe a expressão.



p.s. peço desde já desculpa ao Bombarral

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